sábado, 25 de novembro de 2017

Jornada de Cal Rasen - Capítulo 7 - O Estrago Está Feito

Abertura: The Noose – The Offspring




1.7 – O Estrago Está Feito



Havia acabado. Dimitri estava derrotado e sua missão tinha sido arruinada. Valna, derrotado por Palace, tinha fugido também, antes que seu irmão pudesse fazer mais alguma coisa e piorar sua situação.

Irma finalmente se sentiu compelida a se aproximar de Cal, que largava o que sobrou da Claymore ao chão. – Cal…

Eu acho… – Cal disse, com um tom cansado – ...Que eu vou precisar de um descanso.

Cal disse aquilo com uma expressão completamente exausta, antes de desabar quase em cima de Irma, sendo prontamente amparado por Palace. Vera, vendo a cena, olhou para Palace, que já entendia a situação toda e deu um conselho a ela. – Quer uma dica? Você precisa sumir.

Vera deu uma expressão triste a Palace, mas entendia o que precisava fazer. Deu as costas ao trio sem precisar responder. No entanto, antes de partir, Irma chamou sua atenção. – Espera.

Vera se virou por um instante, para ver uma igualmente exausta Irma dar um olhar gentil a ela. – Obrigada. Por ajudar.

Vera não respondeu. Apenas se virou e voltou a correr na direção da savana. Irma permaneceu olhando naquela direção, até que Palace dirigiu a palavra a ela enquanto colocava Cal em suas costas.

Bem, todo mundo está cansado, e você está encardida e esfarrapada da maratona infernal que passou. O que me diz de irmos todos pra alguma enfermaria e esperar o seu cavaleiro sem armadura brilhante acordar? – Palace já havia notado que Cal havia enfrentado toda a bagunça sem sequer uma armadura para proteger ele. Cal estava oficialmente munido apenas de uma jaqueta e calça jeans e uma camiseta azul-piscina como vestimenta.

O comentário de Palace fez Irma finalmente reparar que seu uniforme de escola estava bastante danificado dos dias na Fábrica de Robôs e a bagunça com a Legião. Olhou envergonhada para o ex-Legionário. – Uh, eu… Tá.

Beleza. Vamos ver se dá pra entrar em um hospital em Lighthalzen sem a gente se meter em mais encrenca. – Disse Palace, agora carregando Cal de volta para a cidade, com Irma o acompanhando.




Lighthalzen, 8 de Abril de 1009, 9:35.

Cal havia finalmente aberto os olhos depois de quatro dias dormindo como uma pedra. Levou dez minutos até que ele recobrasse totalmente a consciência e percebesse que estava em uma cama de hospital. Forçou seu corpo para cima, sentindo o peso dele, colocou a mão direita à cabeça, ajustando sua visão, e finalmente olhou para a esquerda, reparando Palace sentado ao lado dele.

Nada mau, Rasen. Não é qualquer um que consegue fazer Dimitri Markolevich sentir medo. – Disse Palace, reagindo ao Cavaleiro recém-acordado e tentando entender onde estava.

Pera, tem coisa fora do lugar aqui. – Cal estava fazendo esforço para voltar ao mundo real. – Eu sei que eu abati o Dimitri e caí inconsciente, mas como eu cheguei aqui? E cadê a Irma? E a maluca que resolveu trocar de lado?

Palace prontamente apontou o dedo na direção oposta da cama e Cal se virou, notando uma menina de cabelos castanhos e roupas novas, adormecida de bruços sobre a cama.

Por algum motivo, ela parece gostar do uniforme de escola e se recusou a escolher qualquer roupa que não parecesse com ele. – Disse Palace, o que fez Cal reparar que ela estava basicamente vestindo o mesmo uniforme de Kiel Hyre, agora com as cores trocadas por rosa na camisa e gravata e cinza na saia e colete. – E do jeito que ela tá grudando em você, parece que agora ela é a sua carga.

Espera aí, como assim “a minha carga”? – Reagiu Cal, frustrado – Eu só concordei de tirar ela da Fábrica de Robôs.

Espera mesmo deixar ela nas mãos do seu amiguinho Spikier depois de tudo que aprendeu? – Respondeu Palace. – Você viu o lance todo, Cal. Vai ser praticamente jogar ela nas mãos da Rekenber.

Cal olhou novamente para ela, dormindo tranquilamente. Deu um suspiro frustrado. – …Como é que eu consegui uma trolha dessas pra mim mesmo? Ah é, eu ia matar ela pra resolver tudo e então tive essa epifania de que não ia resolver nada.

Palace entendia o discurso frustrado de Cal. Ele mesmo não sabia o que fazer com a própria vida, e agora tinha uma pessoa de quem cuidar. Cal então decidiu mudar de assunto. – Então… Desertor agora, né? Creio que a Vera esteja no mesmo caso.

Ela vai ter que sumir do mapa por um bom tempo enquanto seu clã lida com o caso do Dimitri. – Completou Palace.

E o da Edith. – Tentou completar Cal, antes de notar que Palace iria corrigi-lo. – Não?

Dimitri tem outros planos. E aposto que ele já está trabalhando pra tirar a Edith Stein do caminho.

Mas ela é a líder da Legião, ele não pode simplesmente…

– …Observe e aprenda. – Disse Palace, já ciente do que aconteceria. Cal estava entendendo a situação e não gostando nada do que ouvia.

– …É tão ruim assim? – Perguntou ele a Palace.

É. – A resposta foi monossilábica e precisa. Cal apenas se limitou a olhar enquanto Irma finalmente acordava e percebia que seu salvador estava consciente.

Eu entrei bem nessa agora. Bom trabalho, Cal”, pensava enquanto a menina avançou nele para um abraço, deixando-o confuso. “Bom trabalho mesmo.”




Aeroporto de Lighthalzen, 15:23.

Cal já havia se despedido de Palace. Assistia o ruivo de dreadlocks deixar o Aeroporto enquanto se preparava para decidir seu próximo destino. Ao seu lado, estava sua nova companhia, Irma. Mas naquele momento, ele estava absorvendo toda a sequência de eventos da última semana.

Cal havia acabado de ganhar pontos negativos com Dimitri Markolevich, que obviamente era muito mais poderoso do que o que já havia sido demonstrado em Portus Luna. Sua empreitada a favor de Noah Spikier agora lhe rendeu uma companhia com a qual ele mesmo não sabia lidar. E no instante em que ele tentou contatar o mesmo, descobriu que ele havia sumido do radar da Ordem do Trovão, para a fúria de Thelastris do outro lado da Pedra do Eco pela qual ele se comunicava.

Você definitivamente quis deixar essa trolha toda pra mim, não foi, Noah? – Disse a si mesmo, enquanto Palace sumia de sua vista no meio da cidade mais moderna de Schwarzvald. Não deixou de reparar que a menina de cabelos castanhos a seu lado agora prestava atenção nele. – Bem, estamos juntos nessa agora. Não posso te garantir que vai estar mais segura comigo do que estava no Instituto.

Se o que eu ouvi essa semana inteira é verdade… – Respondeu Irma – …Então eu não estou segura em lugar nenhum mesmo.

Faz sentido. – Cal suspirou, reparando na situação. Agora que ele estava protegendo o protótipo mais valioso da Rekenber, ele seria um alvo. E sem dúvida nenhuma, ela também seria. E como Noah a havia criado para ser nada mais que uma mera adolescente, ela não estava condicionada ao propósito da Corporação: ser a arma de combate perfeita. – Ela já não gostou de saber do Noah. Que maravilha vai ser quando eu falar pra ela que estampei um alvo na minha própria cara.

Cal então foi em direção ao balcão, comprar a primeira passagem para Juno, e de lá, ele voltaria para Izlude. Sinalizou com a mão, indicando para que Irma o seguisse. – Você vem?

Sim! – Ela respondeu, cheia de energia, correndo em direção a Cal. Cal, por sua vez, se perguntava como as coisas iriam acontecer dali em diante.

Para Cal, a viagem tinha acabado de começar, mas iria durar muito mais do que só um passeio de Aeroplano.






Duas pessoas observavam Cal e Irma conforme o Cavaleiro pegava suas passagens e se dirigia para as docas para pegar o voô para Juno.

Uma delas era um homem, passando dos trinta anos. Cabelos prateados repartidos, olhos castanhos brilhantes. A armadura que trajava era adornada com cristais azuis em diversos pontos, com uma beca que parecia uma cruza entre uma capa e um sobretudo. A outra pessoa era uma mulher de longos cabelos louros e olhos verdes azulados, aparentando ser pouco mais velha do que Cal. O casaco longo cinzento que ela vestia tinha fileiras de cristais enrugados em seus ombros.

Ela havia acabado de chegar ao local e reparou que o homem de armadura estava com os olhos fixos em Cal. – …Então, é ele? O garoto que ajudou Draloth.

Pelo visto, é ele mesmo. Já juntei informação suficiente sobre ele. – Disse o homem. – O descendente de Malachias Rasen. Herdeiro de um potencial incrível. O Blitzritter.

Ele reparou que eram apenas ele e a maga conversando. – Pelo visto, os outros não quiseram mesmo vir.

Cada um possui propósitos próprios – Respondeu a mulher – e uma de nós escolheu trabalhar com o inimigo até onde sabemos. E nenhum desses quatro está interessado na sua busca por vingança.

E você está? – Reagiu o homem.

A mulher com quem Draloth é casado é responsável pelo que me aconteceu. – Os olhos bege demonstravam uma expressão gélida naquela mulher – Sua busca por Draloth coincide com a minha busca por ela.

O olhar daquele homem agora fitava o vazio. Lembrava de tudo o que passou e do porque estava na sua busca. A mania era visível em seus olhos por um instante. – Cinco anos. Consciente. Mesmo depois de morto. Destruíram minha sanidade em vida, e o que sobrou dela estava indo embora depois de morto. Eu devo tudo isso a Draloth. Foram as ações dele que me colocaram lá.


Contanto que não pule em mim ou em outras pessoas quando acabar… – A mulher resolveu pegar seu próprio rumo, deixando o homem com seus pensamentos – …Faça como quiser, Seyren Windsor.

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Bem, com isso, o remake do Livro 1 da Jornada de Cal Rasen está completo e postado no fórum. Existe mais umas coisas adicionais que eu gostaria de colocar, e eu certamente estou louco pra começar a trabalhar no remake do Livro 2.

Tem mais umas coisinhas em que eu ando trabalhando a minha cabeça, mas fiquem tranquilos, eu não devo abandonar o blog de novo tão cedo.

Jornada de Cal Rasen - Capítulo 6 - Humano, Artificial

Abertura: The Noose – The Offspring



1.6 – Humano, Artificial



Irma permanecia forçadamente inerte, olhando para o confronto que estava prestes a começar na sua frente. Vera, sob ordens de Dimitri, estava mantendo vigia na garota, mas já havia percebido que ela não iria sair do lugar. Resolveu avisá-la por via das dúvidas.

Não se mexa. Por sua segurança. – Disse a Legionária. – Não seria legal entrar na linha de fogo dos dois. E eu estou muito curiosa pra saber se Cal Rasen é a pessoa perigosa que dizem que ele é.

Irma não reagiu, mas tinha entendido perfeitamente o aviso. Estava exausta, física e mentalmente. Estava apavorada demais para fazer qualquer movimento brusco de qualquer jeito. Não tinha escolha senão assistir o confronto prestes a começar.

Não é ótimo? – A expressão furiosa de Dimitri mudou para uma maníaca e ele abriu os braços como quem esperava um abraço – Vai poder lembrar meu nome quando chegar no Valhalla.

Desculpa, eu não tou no plano de morrer hoje. – Respondeu Cal, ao passo em que Dimitri finalmente começava a vir em sua direção à toda velocidade. Cal esquivou do primeiro ataque dele e preparou um Impacto de Tyr, do qual Dimitri não teve dificuldades de se esquivar. Cal então tentou aplicar uma rasteira contra o ruivo, apenas para acertar o ar enquanto este saltava e lançava sua pesada espada na direção do Cavaleiro. Cal, porém, conseguiu reagir a tempo, impulsionando-se para longe de Dimitri enquanto a força de seu ataque explodia a terra ao raio de meio metro dele.

Cal olhava para seu oponente, surpreso. Não esperava que ele realmente fosse tão forte sem sequer se transformar em “meio-MVP”. Seus pensamentos se voltaram para esse fato.

Ele fez isso só com metade de sua própria força. Dá medo de imaginar o que ele faz com o poder todo”, pensou Cal enquanto via Dimitri voltar para a postura ereta e novamente apontar sua espada para o Cavaleiro. “E lá vamos nós”, sua mente proferiu de novo antes de resumir o combate.



Não longe dali, ocorria o confronto dos Irmãos Atros. Os dois avançaram imediatamente um contra o outro, desferindo golpes velozes de suas Zanbatôs. A velocidade dos golpes fazia os dois parecerem quase borrões, e era um atestado da grande força dos dois. Não demorou até que os dois chocassem suas espadas e as forçassem uma contra a outra, permitindo que os irmãos se encarassem.

Então, como o Rasen te convenceu? – Indagou Valna – Mulheres, amigos ricos, piscinas de dinheiro?

Engraçado pensar que a vida é uma micareta dessa forma, Valna. – Respondeu Palace. – Isso ou você abdicou do senso comum no momento em que entrou na Legião!

Os dois destravaram de suas posições, e Valna respondeu ao comentário do irmão saltando para cima dele e preparando seu ataque, a lâmina da Zanbatô envolta em uma estranha fumaça preta. – GARRA DE GALLION!

A técnica secreta que Valna usou era reconhecida por Palace como uma Break Art. A técnica usava energia espiritual do usuário para gerar todo tipo de efeito e habilidades sob uma arma e causar dano devastador.

Palace se jogou para o lado enquanto o golpe de seu irmão acertava o chão, levantando poeira e deixando uma grosseira marca na terra. Resolveu usar sua própria Break Art, gerando uma esfera de energia na ponta de sua Zanbatô, que era girada acima da cabeça cheia de dreadlocks de Palace antes de ser apontada para o irmão como um canhão disparando seu projétil. – SEPARAR!

Valna se desviou para o lado e viu a esfera de energia passar a centímetros de seu rosto, e então bater em um dos pilares que enfeitava o portão da fronteira, derrubando-o como um tronco de uma árvore.

Chegamos mesmo a isso, então. – Valna já não tinha mais o olhar de escárnio do começo da luta. Agora esse olhar era de desprezo. Palace certamente considerava o sentimento mútuo, já sabendo que seu irmão não iria recuar.

Se a sua definição de justiça é ferir e matar pessoas, é, nós realmente chegamos a isso. – Respondeu Palace – Infelizmente, a minha definição de justiça é frear caras como você. Mesmo se você for meu irmão e eu tiver que matar você!

A paciência de Valna tinha oficialmente acabado. Resolveu finalmente começar a se transformar em Atroce. Palace não perdeu tempo em fazer o mesmo. E assim, os dois começaram a crescer pelugem pelo corpo todo, suas cabeças achatando e começando a ganhar um formato canino, seus corpos ganhando massa e músculos conforme o tamanho dos dois praticamente dobrava.

Aventureiros próximos que tinham parado de atacar Ventos da Colina para assistir ao combate dos dois imediatamente começaram a perceber porquê aqueles pássaros começaram a fugir e se tocaram de que era hora de fazer o mesmo. Corriam assustados por suas vidas, enquanto os Irmãos Atros, que nem mesmo sabiam que tinham atraído uma plateia, se encaravam, suas transformações completadas.

Atroce contra Atroce. O que me diz, Palace? – Desafiou Valna, apontando a espada para o irmão e vendo o sentimento sendo reciprocado pela mesma ação. E assim o combate voltava a ocorrer, agora com força total.



Cal, enquanto isso, não estava conseguindo se ajustar ao nível de força de Dimitri. Ele via seu oponente se esquivar facilmente de seus ataques, como se estivesse brincando com o Cavaleiro.

Dimitri lançou um Impacto de Tyr com ataques giratórios, os quais Cal conseguiu se esquivar. Este tentou se aproveitar da inércia gerada e tentou prosseguir com um chute giratório na cabeça de Dimitri, apenas para ter sua perna direita agarrada e ser girado por duas voltas completas antes de ser arremessado para longe. Cal conseguiu usar seus braços para manobrar seu corpo e impedir uma colisão violenta, usando seus braços como freios para o movimento. No entanto, Cal via Dimitri avançando de novo, pronto para um Golpe Fulminante. Enquanto Cal conseguiu rolar para o lado para evitar um acerto direto, o impacto do ataque, com a mesma onda de choque presenciada no começo da luta, tratou de fazer Cal ser arremessado na mesma direção para qual tinha esquivado e se viu forçado a novamente aparar sua queda.

Vera conseguia perceber a tensão e a forma como Cal estava em grande desvantagem contra o sub-líder da Legião. Não conseguia entender como Cal tinha coragem de enfrentar alguém tão mais forte do que ele.

Dimitri ficou parado dessa vez, vendo Cal se levantar com alguma dificuldade, ofegando pelo ritmo frenético ao qual estava sendo forçado. Sentiu-se então na vontade de conversar com sua presa.

Não entendo a sua motivação, Rasen. Está totalmente em desvantagem, mesmo com o poder que tem, mas quer continuar insistindo, tudo por uma criatura criada em laboratório por um grupo de cientistas. – Zombou Dimitri.

Cal começou a perceber um paralelo entre seus propósitos e os de Dimitri. Horas atrás, o plano dele era simplesmente matar Irma e chamar aquilo de dia. Agora, vendo o discurso de Dimitri… – ...Engraçado. Consigo ver em você o tipo de merda que passava pela minha cabeça horas atrás. Toda a bagaça com o Leafar deve ter mesmo ferrado com a minha cabeça como a Thelastris diz.

E ainda assim, se dispõe a arriscar sua vida por uma menininha sem memórias ou sequer uma definição de vida antes de nós aparecermos. – Continuou Dimitri, ignorando o discurso de Cal a si mesmo. – Ela não possui valor, Rasen! Ela sequer é um ser vivo! Não há a menor diferença entre a razão da existência dela e as nossas motivações!

O discurso de Dimitri foi então recebido com uma risada de escárnio de Cal. – ...O que te faz ter essa linha retardada de pensamento?

Dimitri foi pego de surpresa pelas palavras de Cal, que prosseguiu. – Você realmente espera que ela aceite o que você impor a ela só porque ela foi feita num laboratório? Sinto muito, eu acho que você meio que se recusa a entender como “livre arbítrio” funciona. Por acaso aplicou esse mesmo discurso no meu clone quando recrutou ele? Ou na senhorita Vera quando transformou ela na sua escrava?

A expressão de Dimitri mudou ao ouvir aquilo. Estava tratando as palavras de Cal como uma piada de péssimo gosto.

Sua visão das pessoas me parece ser a de brinquedos que se usam uma vez e então são jogados fora. Não é assim que funciona. O nome dela é Irma, pra começo de conversa, palhaço. – Dimitri ficou furioso ao ser insultado pelo Cavaleiro dessa forma, lançando um olhar mortal sobre Cal – E o que eu vi dela é o suficiente pra dizer que ela é tão humana quanto eu sou.

Irma ouvia o discurso do Cavaleiro e finalmente se levantou da posição que estava, com Vera tentando freá-la de novo. – Não se mexa, não viu que isso ficou perigoso demais?

Mais do que vocês todos já tornaram? Ele é a ÚNICA pessoa que se dispôs a me tirar do perigo!!! – Finalmente reagiu, com lágrimas nos olhos. Vera ficou muda e chocada com a resposta. Era como se a resposta de Irma finalmente tivesse mostrado a ela o quão omissa ela se tornou em relação a tudo.

Cal continuava encarando Dimitri e o desafiando verbalmente. – Não vou sair de Portus Luna sem a garota, e certamente não vou ser barrado por um pedaço de bosta que não possui bússola moral nenhuma!

Dimitri finalmente havia deixado de lado a postura de caçador e agora estava prestes a jogar como o exterminador que era. – Você. Vai. SANGRAR!!!

É o que todo maluco que tenta me enfrentar diz antes de acabar sangrando. – Respondeu Cal, enquanto Dimitri finalmente pulava em sua direção. A Claymore de Cal começava a liberar carga elétrica, sinal de seu próprio poder. No entanto, ele já sabia o que estava vindo em sua direção e resolveu pular para trás. Dessa vez, Cal conseguiu evitar a onda de choque, muito maior do que a mostrada ao longo da luta. Dimitri havia acabado de deixar uma cratera de três metros de diâmetro no chão… com um soco.

Ao pousar no chão, Cal percebeu o quão encrencado estava. – Ah. Então é disso que você é feito.

Dimitri se levantava do golpe que havia acabado de executar, o olhar maníaco dirigido a Cal. – Você tem determinação, mas isso ainda não vai te salvar de ter cada osso de seu esqueleto quebrado.

Vamos lá, Cal, tem que ter um jeito de virar a porra da mesa”, pensava enquanto via Dimitri começar a caminhar lentamente em sua direção, certamente sem freio nenhum a essa altura do campeonato.

Dimitri agora apontava o braço direito para Cal e preparava uma esfera de energia negra que serviria de projétil contra o Cavaleiro, que ainda tinha uma resposta sarcástica ante o novo problema. – Ih, virou Dragon Ball Z agora. Fodeu.

Dimitri, porém, teve seus planos interrompidos quando uma forte descarga elétrica o acertou por trás, pegando tanto ele quando Cal de surpresa. Dimitri se virou furioso para o novo oponente, já sabendo quem era. – Vai pagar caro por isso, Abelha Rainha.

Vera havia acabado de interferir na briga entre Cal e Dimitri, e certamente era a favor de Cal. A resposta sarcástica dela apenas enfurecia Dimitri ainda mais. – Pois é, eu certamente vou me arrepender de largar o emprego de secretária de um bando de frouxos que quer acabar com a humanidade. Veja só como eu estou sofrendo por isso.

E quem falou que você vai sentir qualquer coisa? – Dimitri ainda tinha a carga de energia escura em sua mão, e imediatamente a disparou contra Vera… O que acontecia de também ser a direção geral onde Irma estava. A informação chegou rápido o bastante em Cal.

Vera esperava ser obliterada pelo ataque, mas ficou chocada quando viu que, ao invés de acertar seu alvo pretendido e o que quer que estivesse atrás, a esfera de energia foi cortada por uma Claymore que prontamente estilhaçou, restando apenas uma lâmina feita de eletricidade em seu lugar. Seu usuário parecia furioso o bastante e encarava Dimitri com um olhar maníaco, enquanto ela via o projétil explodir como uma bomba, vinte metros à sua direita.

Irma e Vera estavam olhando para Cal Rasen, que havia, em uma fração de segundo, se jogado na direção do projétil e repelido o ataque quase como se não fosse grande coisa. Dimitri, por sua vez, não sabia se ficava surpreso ou ainda mais enfurecido. Ou com medo, agora que a fúria nos olhos de Cal estava preenchendo o ambiente todo. Assim como sua mana verde, saindo de seu corpo como flocos de luz e eletricidade.

Eu certamente vou fazer você sentir mais dor do que jamais sentiu na sua vida. – Respondeu Cal à frase de Dimitri proferida a Vera.

Acha mesmo que esse show de luzes e eletricidade pode me deter, moleque? – Dimitri continuava desafiando verbalmente seu oponente, mesmo ciente do que já estava acontecendo.

E quem falou que isso é parte do Kit Thor? – Respondeu Cal – Qualquer pessoa com conhecimento suficiente pode acender a própria mana e aumentar a própria força com isso. Um truque bem clichê que acaba por ser bem efetivo em casos como o seu.

O momento de Cal era visível o bastante para fazer com que os Irmãos Atros, brigando ainda à vista, parassem por um momento, prestando atenção na luz verde que preenchia o local.

Irma sentia o calor vindo daquela luz, a energia saindo dele era praticamente confortável a ela e opressora a Dimitri. Ela tentou pegar um dos flocos de energia com a mão quando se aproximou dela. – É tão… Lindo…

– …Foi com isso que ele causou a vitória na Batalha de Sograt… – Reagiu Vera, completamente em choque. Ela sabia do resultado final da batalha que deixou Morroc em uma situação muito ruim, forçando-o a fugir de Midgard. – Essa energia. Foi a mesma que ele acendeu nas cinco mil pessoas que sobreviveram à Batalha de Sograt!

Já passou da hora de igualar essa luta, Dimitri. A partir desse momento, você vai ver 100% da minha capacidade. E quem sobreviver a isso vai ter que dar à Edith a triste notícia de que você agora não passa de uma pedrinha na minha estante quando eu acabar. – Avisou Cal antes de apontar a espada de eletricidade contra Dimitri.

Ora… SEU…!!! – Dimitri não conseguia mais conter sua própria fúria e avançou a toda velocidade contra Cal, que já esperava pelo ataque, olhos fixos no que agora era sua presa.

Isso mesmo, idiota. Vem cá receber um pouco de HUMANIDADE!



Essa é a conclusão lógica da manifestação de mana. Ele realmente dominou isso. – Palace dizia a si mesmo enquanto ele e seu irmão olhavam abismados para o combate entre Cal e Dimitri.

Essa energia… Toda essa energia… – Valna não conseguia entender o que estava acontecendo ali. Cal certamente não tinha toda essa força quando o Legionário o enfrentou na Fábrica de Robôs. Ele se virou para Palace, que ainda lembrava que estava em confronto com o próprio irmão. – …Você ensinou isso a ele, não foi?

Não tive tempo, e além disso, acho que ele já sabia fazer isso há meses. – Respondeu Palace. – Falando em “fazer isso”, acho que já chegou a hora de dar fim nessa sua palhaçada.

Os Atros tinham conhecimento de como liberar mana de seus corpos passados de geração em geração, e Valna e Palace eram aparentemente os últimos herdeiros desse conhecimento. No entanto, Palace sabia que sua família não era a única com tal capacidade. E sabia que era por causa disso que Dimitri tinha chamado os dois para a Legião não muito depois do massacre de sua família. O que levou Palace a se perguntar se Dimitri não tinha sido o responsável por tal massacre.

Não que isso importasse agora. Nesse momento, Valna exalou uma mana negra, podre, reflexo de sua alma corrompida. Palace respondeu, exalando uma mana laranja, viva de seu corpo, ao instante em que seu irmão avançou, Palace respondeu com outra Break Art, um movimento com o qual pretendia encerrar a luta:

SINAL SAGRADO!

Um círculo mágico com runas sagradas apareceu no chão, tendo como centro o local onde Palace plantou sua Zanbatô, e Valna se viu sendo prontamente jogado para o alto pela descarga de luz ascendente que o acertava. Por alguns instantes, a luz branca saindo daquela onda de energia sagrada ofuscou totalmente o que aconteceu no lugar, até ceder e então revelar Valna caindo ao chão com força total, quicando e sentindo todo o impacto da queda, já somado ao dano do ataque de seu irmão.

Valna não tinha mais forças para continuar transformado e reverteu à sua forma humana, assim como Palace, que estava exausto do combate. Este reagiu calmamente ao evento antes de voltar seus olhos ao confronto entre Cal e Dimitri. – Bem melhor agora. Com você no chão.



O avanço de Dimitri foi freado quando seu soco acertou apenas o ar, apenas para ser recebido com um soco na boca do estômago, cortesia de Cal. – Você ainda não entendeu o aviso, não foi?

O punho de Cal imediatamente abriu e revelou em seu palmo uma esfera de eletricidade, a qual ele disparou à queimarroupa contra o estômago de Dimitri, fazendo-a atravessar seu corpo violentamente. Mesmo que isso não tivesse aberto um buraco no torso do Legionário, ele agora sentia toda a dor que Cal disse que o faria sentir. E era bastante evidente no choque em seu olhar.

Bem-vindo ao Admirável Mundo Novo, campeão. – Dizia Cal, enquanto Dimitri se dobrava de dor ante o ataque que acabou de sofrer – Quer tentar de novo?

Essa frase fez com que toda a razão sumisse do cérebro de Dimitri, agora oficialmente obcecado em acabar com Cal. No instante em que Dimitri urrou com toda a sua força e tentou jogar um violentíssimo cruzado de direita no Cavaleiro, este respondeu com um gancho de esquerda em seu queixo. Dimitri apenas sentiu seu corpo dobrar para trás com a força do golpe, mas ele se recompôs e tentou avançar de novo em Cal, apenas para ser recebido com um chute, mais uma vez no estômago.

Dimitri deu alguns passos para trás enquanto Cal permanecia no lugar, olhando seu oponente. – Não é mais tão homem agora, não é?

Dimitri tentava entender o que estava acontecendo. Dois minutos atrás, ele tinha o combate inteiro na palma da mão. Agora, Cal estava completamente dominando ele. Se isso se prolongasse mais, acabaria muito mal para ele.

Des… Desgraçado… – Dimitri, ofegante, encarava seu oponente. – Você pode ter vencido essa luta… Mas não pense que eu não vou me adaptar a isso!

Antes que Cal pudesse preparar o próximo ataque, Dimitri esmagou uma Asa de Borboleta em sua mão. – E quando eu voltar, eu juro, Rasen, eu vou esmagar você.


Dimitri teve tempo de proferir essas palavras antes de sumir completamente do local diante de Cal. A mana do Cavaleiro, então acesa, finalmente apagou, revelando uma pessoa exausta pelo árduo combate. Havia acabado. Dimitri voltou para o Quartel-Geral da Legião sem Irma, sem Vera, ou sequer sem levar a cabeça de Cal como prêmio de consolação.

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Pronto, o clímax do Livro 1. Quase no fim do começo da Jornada do Cal, estamos começando a colocar o setting pros eventos dos Livros seguintes.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Jornada de Cal Rasen - Capítulo 5 - Mudando de Ideia

Abertura: The Noose – The Offspring




1.5 – Mudando de Ideia



– ...Então. O que faremos com o cara?

A voz vinha de um dos homens da Rekenber que havia vindo apanhar Cal quando o encontrou inconsciente. Para eles, parecia uma oportunidade dourada de recapturar o Cavaleiro. Eram quatro homens, um deles um cientista. O cientista que acompanhava os três soldados era o mesmo que havia tentado recrutar Cal em Juno.

– A Legião rompeu a parte deles do acordo. Estão com a garota, o que já é ruim o bastante. – Disse o cientista. – Vamos levar o Cavaleiro daqui e interrogá-lo sobre o que ele já sabe sobre o projeto de Spikier.

Um dos soldados obedeceu sem dizer nada. Se aproximou de Cal, crendo que não seria problema transportar um homem inconsciente. Mas no momento em que encostou seu braço direito no peito de Cal, ele instantaneamente abriu seus olhos, fitando o homem como se estivesse pronto para matá-lo.

O soldado, assustado, reagiu ao tentar puxar um bastão de choque e rapidamente levá-lo contra o peito de Cal. Mal sabia que estava cometendo um grave erro, o que o cientista não teve tempo de avisar quando havia finalmente se virado com os outros dois soldados para ver o que estava acontecendo. Cal havia agarrado o braço com o bastão de choque e forçado o bastão contra seu próprio peito, recebendo a descarga elétrica com um sorriso sarcástico no rosto.

– Parabéns, herói, conseguiu me dar o meu equivalente de café. – Disse Cal no segundo anterior ao que ele prontamente disparou um Trovão de Júpiter com o braço esquerdo contra o peito do soldado, lançando ele para o alto com o ataque. E com os dois braços forçando contra o chão, Cal se lançou do piso e estava novamente de pé, encarando os três que ainda estavam de pé enquanto o primeiro chegava ao chão inconsciente.

Cal prontamente reconheceu o cientista como aquele que estava “tentando ajudar Noah”. Não demorou muito pra juntar dois e dois. – Então, quando ia contar pro Noah que seus planos não batiam com os dele?

– Eu não ia. – Respondeu o cientista antes de sinalizar com a mão direita para que os dois soldados a seu lado se mexessem. Os dois imediatamente sacaram submetralhadoras e as apontaram para o Cavaleiro, que permanecia no lugar, mantendo o olhar furioso.

– Então o jogo era levar a garota, eu como bônus, talvez, e aí você recebia um aumento de salário ou uma promoção do CEO. Genial. Realmente, genial mesmo. – Reagiu Cal, mantendo um tom calmo, porém sarcástico.

Cal permaneceu encarando o trio até que os dois soldados decidiram tentar avançar. Apenas decidiram. O cientista rapidamente notou o soldado da direita levando um corte nas costas de uma imensa espada, com o da esquerda se apavorando e imediatamente descarregando o pente da submetralhadora no que quer que tivesse acertado seu parceiro. Cal, por sua vez, assistia confuso ao espetáculo enquanto o segundo soldado era pego em um agarrão de gravata e imediatamente jogado no chão para receber um soco na cara e acabar igualmente fora de comissão.

– Fique parado aí, doutor, ou eu trato de decapitar você. – Disse o homem de dreadlocks ruivos, que Cal facilmente reconheceu como Palace Atros.

Normalmente Cal ficaria agradecido por receber reforços, mas ele sabia de onde os reforços estavam vindo. Ele se limitou a fazer uma questão ao Legionário. – Você não precisava me ajudar se for pra me matar depois.

Ainda com a Zanbatô apontada para a garganta do cientista, Palace se deu ao luxo de se virar para Cal. – Pois é, mas meu irmão perdeu o que havia sobrado de juízo nele, a Legião nunca teve gente das melhores cabeças na cadeia de comando, e você parece o único aqui que não incluiu nos planos a ideia de transformar a menina numa bomba atômica.

– Más notícias pra você, eu ia matar ela. – Respondeu Cal sem pestanejar, deixando Palace confuso.

– ...O que?

– Eu ia, não vou mais. Não pareceu certo quando chegou a hora. Uma pena, esse cara ia ficar com a maior cara de choro se chegasse e só tivesse um cadáver aqui. – Respondeu Cal, para o desgosto do cientista.

– E por sua causa, agora a Legião tem um protótipo com poderes mágicos enormes? – Indagou o cientista, incrédulo. – Eu preferiria que você a tivesse matado!

Cal já estava andando na direção do cientista. – Pois é, mas eu não matei ela, né? Agora eu posso começar a me preocupar em fazer a coisa certa ao invés de apenas pensar em cagar o cenário todo pra todo mundo como vocês da Corporação gostam de fazer.

Ver a assustada Irma naquele estado havia deixado uma certa clareza de mente em Cal. De fato, matar a garota teria instantaneamente resolvido a situação, deixando a Rekenber, a Legião e até mesmo Kiehl, o residente da Fábrica, sem nada. Mas será que o custo de matar uma criança, mesmo artificial, valia a pena? Para Cal, não era mais a resposta. De certo ponto, ele finalmente entendia porque Noah de todas as pessoas chamou ele para fazer aquilo quando ele poderia ter chamado qualquer um na Corporação.

– Como extra… – Palace adicionava – ...Eu soube que vocês queriam um da Legião pra estudar. Eu por acaso encaixava nos planos ou só valia pra Vera?

Vera era um nome familiar a Cal, facilmente associado com a acompanhante de Valna na ocasião. – Agora que mencionou, tinha uma rapariga com esse nome acompanhando seu irmão.

– O plano era a garota, mas você ia servir, eu admito. – Respondeu o cientista, antes de Cal imediatamente aparecer do lado dele, acertando um forte cruzado de direita em seu rosto e o nocauteando.

Palace apenas assistia enquanto Cal começava a revirar o cientista de dentro para fora. O Cavaleiro achou um PDA, que era usado para passar informações para a Corporação, não diferente de um que ele havia visto no ano anterior nas mãos de Lucario Moonlevar, um dos cientistas mais aclamados da Corporação. Cal prontamente colocou o PDA em seu bolso, esperando obter informações do aparelho no futuro. Também examinou a identificação do homem num crachá escondido dentro do paletó. – Doutor Lance Armeyer. Nome de bundão.

– Você vai precisar de ajuda para chegar na garota a tempo se ainda quiser salvá-la. – Disse Palace, finalmente chamando a atenção de Cal.

– Olha… – Cal se levantou e se virou para Palace – ...Eu agradeço você ter salvado meu couro e tudo, mas eu ainda preciso de uma razão decente pra eu confiar no que você tá dizendo e saber que eu não tou sendo levado pra outra armadilha.

Palace deu um sorriso sarcástico. – Justo. É o que se ganha por entrar num grupo de lunáticos com o irmão pra vingar a morte dos pais e depois apenas vai seguindo a onda.

A resposta de Palace foi o bastante para que Cal resolvesse continuar a conversa. – Eles pretendem iniciar a Irma, não é? Essência de MVP e coisa assim.

Essa era a forma de entrar na Legião. Quando alguém se tornava um membro, ele recebia a essência de um MVP condizente com sua personalidade ou suas habilidades. Não era sempre o caso, como Palace sabia sobre Vera, ou sobre Omni Ferus.

– Iniciação à força. Dimitri pretende forçar a essência do MVP para dentro dela. E com o poder mágico que ela tem, é capaz de que o Dimitri consiga uma coisinha que ele tem procurado: a Forma Perfeita de um Legionário. – Respondeu Palace.

– Forma Perfeita?

– As transformações que você nos vê executando são conhecidas como Forma Máxima. Somos nós canalizando o monstro dentro de nós mesmos. Mas a Forma Perfeita… Dimitri acredita ser possível iniciar uma transformação que transcenda tanto o poder humano quanto o poder de um MVP comum. – Explicou Palace para Cal, que estava processando a nova informação.

– Ah, então ele quer um Morroc em miniatura. Bate com a sua descrição de bomba atômica. – Respondeu o Cavaleiro, sarcasticamente. – Então, onde ele vai fazer isso?

– Portus Luna, a fronteira entre Schwarzvald e Arunafeltz. – Respondeu Palace, calmamente, enquanto Cal ficava exasperado.

– ...Um segundinho aqui. Você disse Portus Luna? – Palace parecia entender bem o que Cal queria dizer com aquilo. – Tá me dizendo que o seu irmão e a secretária dele levaram a menina pra uns duzentos e cinquenta quilômetros a oeste daqui? Quanto tempo eu estive dormindo?

– Duas horas, se eu não me engano. – Respondeu Palace. – E eu tenho um ponto de retorno em Lighthalzen, se estiver na dúvida. Vai ter que vir comigo se quiser impedir Dimitri.

– Fantástico. – Reagiu Cal, ainda mantendo o tom sarcástico e olhando para o primeiro soldado, que ele havia nocauteado e agora estava acordando. – Pelo menos eu levei o palmtop do Senhor Armeyer comigo e o cara leva o prêmio de consolação de sair daqui sem ser retalhado pelas crianças transformadas do Kiehl.

Palace pegou uma Asa de Borboleta do bolso e Cal prontamente colocou a mão no ombro dele, esperando ser transportado junto com o Legionário desertor. – Dia fantástico. Honestamente.

O soldado teve o tempo apenas de assistir Palace, sem dizer uma palavra, esmagar a Asa de Borboleta na mão direita e se transportar junto com Cal para Lighthalzen. Agora, no recinto, estavam apenas ele, seus dois parceiros, um deles com um ferimento nas costas, e o Dr. Armeyer, ainda inconsciente do soco de Cal. Ele poderia chamar reforços, mas relatar a derrota humilhante para aquele que eles passaram a chamar de Blitzritter iria criar mais problemas. Se limitou a acordar o outro soldado saudável e se preparar para sair da Fábrica de Robôs o mais rápido possível.

Enquanto isso, Cal e Palace já estavam na saída norte de Lighthalzen e se preparavam para correr o mais rápido possível para o norte, em direção a Portus Luna, a fronteira entre Schwarzvald e Arunafeltz.


Portus Luna, 4 de Abril de 1009, 17:35.

Valna e Vera não demoraram a alcançar a fronteira entre Schwarzvald e Arunafeltz. Irma, por sua vez, permanecia catatônica, carregada por Valna.

O homem ruivo, alto, trajando uma armadura prateada leve, aguardava os dois próximo a uma capela solitária na área. Imediatamente reconheceu seus subordinados quando eles chegaram e notou que apenas dois deles vieram.

– Vocês dois discutiram o relacionamento de novo? – Indagou o ruivo, que aparentava ser bem mais velho do que Valna.

– Então, Dimitri. Palace se voltou contra a Legião. – Respondeu Valna. – Já dei cabo dele, não precisa se preocupar.

Aquele era Dimitri Markolevich, um dos superiores da Legião e portador da essência do Detardeurus. Era ele quem fazia a maior parte do trabalho sujo de Edith Stein, especialmente no que tangia a cuidar de seus inimigos, em especial a Ordem do Trovão, mesmo que ele jamais tivesse mostrado sua cara para o clã de Cal Rasen.

E Dimitri não estava feliz em seguir as ordens cada vez mais preguiçosas de Edith. Ou em ouvir a resposta sem resposta de Valna. – …Você deu cabo dele? Então me diga, se matou seu irmão, onde está o corpo dele?

Valna largou Irma no chão com uma expressão de quem percebeu que havia acabado de fazer uma idiotice. Vera apenas deu um sorriso sarcástico e assistiu quietamente enquanto Dimiti olhava furioso para seu subordinado.

– Você não é o tipo de desleixar moralmente, mas também não é uma pessoa inteligente como seu irmão, não é, Valna Atros? – O tom de voz de Dimitri se tornou ameaçador. – Porque o que eu vejo aqui é um idiota sortudo o bastante de ao menos ter me trazido o objetivo principal da operação!

– Bem que eu questionei sobre deixar ele e Rasen vivos. – Disse Vera, propositadamente tentando piorar a situação de Valna e causando Dimitri a lançar um olhar ainda mais furioso agora que sabia que Valna havia deixado o líder da Ordem do Trovão viver.

– Não vem com essa! – Reagiu Palace prontamente a Vera. – Mesmo se Rasen vier até aqui com a armada dele, não vai ser a primeira vez que a Legião leva a melhor sobre a turminha dele! Além disso, duvido que ele consiga chegar a tempo de impedir esse pedaço de carne artificial de se tornar uma de nós.

O corpo de Irma finalmente reagiu quando ouviu Valna citá-la. Ela havia passado a prestar atenção na conversa.

– O que ela tem de tão especial pra você, Dimitri? – Indagou Valna. – Porque precisou de três Legionários só por um protótipo?

– Eu já falei o que esse protótipo tem. – Dimitri respondeu, ainda mantendo o tom ameaçador. – Mas não vai ser para colocar ela no nosso grupo habitual. Depois de uma boa lavagem cerebral, ela será tão eficiente quanto eu sou.

– Ah claro, porque a novata possui poder mágico ilimitado digno de Leonard Belmont e o caralho. – Valna sabia da situação em que estava, mas não conseguia deixar de fazer escárnio da situação toda.

– Além de dois pontos de vantagem. – Dimitri manteve seu tom. – O primeiro, é que ela não vai ter um surto psicótico como, digamos, Omni Ferus. O segundo é que não tem como uma alma sem memórias da vida anterior se importar com mais uma lavagem cerebral. Já fizeram bastante disso nela quando colocaram o cérebro positrônico.

Dimitri parecia entender perfeitamente do que estava falando. Irma ouvia aquilo, ainda segurando seu corpo na posição mais imóvel possível, mas quanto mais ouvia, mais queria colocar seu corpo em posição fetal e simplesmente começar a chorar.

– Se pudermos fazer com outros o que pretendemos fazer com ela, vamos dizer que o futuro da humanidade está totalmente garantido. – Continuou Dimitri, mantendo seus pensamentos para si mesmo enquanto o tom de voz diminuía. Para ele, a menina tinha outra utilidade. Ele queria ver até onde o poder de um Legionário poderia ir e o que ele poderia fazer com esse poder. Era a forma dele de avançar seus próprios planos.

Vera olhou para Irma por um instante e havia percebido que algo estava errado. O olhar da menina não parecia mais estar na direção do infinito. Agora parecia um olhar de pavor máximo. Vera prontamente virou seu olhar para Dimitri, tentando processar o que ele disse e tentando entender como realizar lavagem cerebral e colocar a menina no que Dimitri tratava como “o topo da cadeia alimentar” iria trazer evolução para a humanidade. Dimitri não deixou de reparar nisso.

– E mesmo com inteligência, você parece ter problemas para processar a coisa toda, Abelha Rainha. – Dimitri referiu-se a Vera como a MVP que ela tinha em si. – Talvez esteja tendo problemas para se adaptar ainda? Acontece quando você decide pensar que sua liberdade é uma boa ficha para apostas.

– Bem que o Palace disse que nem todo mundo entrava por vontade própria no seu chiqueiro.

A voz que citou tal frase não era de Vera ou Valna. Dimitri imediatamente olhou para a direita, onde viu duas pessoas se aproximando do grupo. Vera levantou um sorriso como quem tinha acabado de ouvir uma piada e rapidamente olhou para Valna, se referindo a um de seus últimos comentários. – Você. Roga. Muita. Praga.

– E pra Vera, fica aviso que a Edith planejava dar fim em você. Palace mesmo me contou que o Dimitri só quer saber da sua bunda mesmo. – Cal continuou caminhando, mantendo o escárnio em direção a seus oponentes enquanto Palace mantinha-se quieto, fixando seu olhar em Valna. Dimitri olhou para este como se desejasse imediatamente estar na posição para acabar com sua raça, mas decidiu se focar em Rasen e no novo desertor, Palace. Valna apenas se resignou, frustrado e furioso, a apenas esperar por ordens de avançar para cima dos dois.

– Devia ter nos matado quando teve a chance, Valna. – Completou Palace. – Ou não, já que eu vou acordar pelado em algum lugar da Savana de Ida depois de algumas horas, de qualquer jeito.

Dimitri mantinha o olhar incandescente de ira divina em direção a Cal e Palace e então proferiu suas palavras a Valna. – Você quer se redimir da besteira enorme que acabou de cometer? Então eu sugiro que você me traga a cabeça do Rasen e de seu irmão para ONTEM!!!

Valna grunhiu em frustração, mas sacou sua espada, pronto para mais uma luta. Dimitri continuou, aparentemente já tendo percebido que a cabeça de Irma estava voltando ao lugar depois do choque inicial. – E eu quero a Abelha Rainha fora disso. Você está encarregada de manter a menininha traumatizada no lugar.

Palace, por sua vez, sabia exatamente o que fazer. – Rasen, consegue aguentar o Dimitri por uns minutos enquanto eu espanco o meu irmão pra tentar botar juízo nele?

– Já apanhei do Omni Ferus, já apanhei do Morroc, já levei uma espadada gigante no ombro esquerdo do qual eu nem devia ter saído vivo, o que é apanhar do segundo em comando da Legião? – Respondeu Cal, humorosamente. – Pelo menos vai ser legal me entrosar com Dimitri Markolevich em pessoa e saber mais sobre o dia em que ele massacrou a família do Velho Eisenheim.

– Ah, você e Alexander se conhecem. Bom ter me lembrado. – Dimitri já havia sido amigo de Alexander Eisenheim II, o líder da Organização VII, décadas antes. Dimitri foi o responsável por trair Eisenheim para a Legião e massacrar o clã de seu então amigo, levando Eisenheim a juntar os cacos e erguer a atual Organização VII.

– Então. Dimitri, né? Eu tenho uma lista de contas pra acertar com você, começando pelo que você fez no Johan ano passado e terminando na menininha que eu vim salvar aqui. – Cal sacou uma Claymore que havia pego do armazém em Lighthalzen, uma vez que havia esquecido a anterior na Fábrica de Robôs na pressa. E então se posicionou para combate, enquanto Palace ia na direção de seu irmão. – Dimitri Markolevich. Nome maneiro pra um Moscoviano.

– Não é ótimo? – A expressão furiosa de Dimitri mudou para uma maníaca e ele abriu os braços como quem esperava um abraço – Vai poder lembrar meu nome quando chegar no Valhalla.

– Desculpa, eu não tou no plano de morrer hoje. – Respondeu Cal, ao passo em que Dimitri finalmente começava a vir em sua direção.


Ao mesmo tempo, Valna finalmente avançava contra seu irmão Palace, iniciando a luta dos Irmãos Atros. Vera e Irma agora estavam assistindo um confronto duplo. Para Vera, era um choque de ideais no qual ela estava finalmente prestando total atenção.

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Agora estamos nos aproximando do clímax do Livro 1 da Jornada de Cal Rasen. Mais mudanças no tom da fic, conversas mais fluídas, reações mais humanas. Desculpa o atraso dessa aqui, eu ando meio focado em mexer com Blazing Souls também, mas eu ainda tou mexendo com coisa de fic, e bastante.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Jornada de Cal Rasen - Capítulo 4 - Troca de Lados

Abertura: The Noose – The Offspring


1.4 – Troca de Lados



O trio de Legionários estava finalmente dentro da Fábrica de Robôs. Não tinham a menor dificuldade em enfrentar as máquinas do local, fosse Aliza, Alicel ou Aliot.

Palace havia ajudado a guiar os outros dois ao local, mas já não estava mais disposto a cumprir a missão que lhe foi dada. Havia tido bastante o que pensar no caminho para a Fábrica, atravessando o lado de fora dos dormitórios do colégio e chamando atenção local enquanto Valna violentamente matava um Grand Peco ao empalar a ave e então um Bode, sem tirar o corpo da ave da enorme Zanbatô.

O Atros mais novo já estava questionando sua missão desde o começo, mas agora que estava perto de executá-la, parecia bastante decidido. Parou a meio caminho, já às portas do segundo andar da Fábrica, forçando os outros dois a pararem.

O que foi? – Indagou Valna. – Esqueceu de ir ao banheiro?

Palace apenas sacou sua Zanbatô e a apontou à altura da cabeça de Valna, olhando fixamente nos olhos do irmão. Valna não sabia se achava a situação irônica ou trágica.

Você não vai fazer isso, Palace. – Desafiou o irmão mais velho.

Errado, eu vou fazer isso. – Respondeu o mais novo. – Nunca se perguntou o que segura a gente na Legião, não é? Mesmo depois de termos vingado a morte de nossos pais.

Não era como se eles tivessem sido devorados por ursos e nós acabássemos sendo criados por lobos. – Respondeu Valna, sarcástico.

Vera apenas assistia os dois se desentendendo, sem nem cogitar se meter na discussão. Aquilo inclusive parecia divertido para ela.

E você ainda trata como se isso já fosse parte de você. – Palace encarava furioso seu irmão.

Pois é, porque eu aceitei que meu propósito é ajudar a Miss Edith Stein a criar a “nova ordem mundial” dela ou seja lá o que caralhos ela quer fazer. Não é seu caso, Palace. Você sempre protestou contra a ideia. Desde que Dimitri apareceu em nossas vidas!

Esse era o sinal de que a discussão entre os Irmãos Atros estava aquecendo. Valna agora estava mudando para uma expressão séria, pronto para enfrentar seu irmão.

Pois é, especialmente porque a ideia da vez é pegar uma adolescente e transformar ela no mais novo brinquedo do grupo, assim como aconteceu com a nossa acompanhante aqui! – Vociferou o ruivo com dreadlocks. Vera não ficou confortável com o comentário, mas sabia que iria sobrar pra ela, fisicamente, se ela entrasse na briga dos dois. Ela havia oficialmente se resignado a assistir o evento todo.

Grande hora pro seu senso de justiça aparecer, hein? – Valna estava levantando a voz agora. – Eu já tou de saco cheio de te dizer que a única justiça que existe no nosso mundo é a do mais forte! Você é o único que ainda insiste nessa porra!

Valna havia finalmente sacado sua Zanbatô e estava pronto para partir pra cima do irmão. A recíproca era verdadeira para Palace. – Você não me deixa escolha, Valna.

Os dois finalmente avançaram um contra o outro, com Vera servindo como espectadora. As duas espadas cruzavam fortemente, sem nunca acertar a pele de alguém. Cortes eram deixados na parede e chão do corredor pelas espadas enormes dos dois. Valna e Palace ambos demonstravam habilidade de manuseio e força inacreditáveis com suas Zanbatôs. E a discussão prosseguia conforme os dois se enfrentavam.

Você sabe o que um ato de traição significa, Palace! Você será caçado, você será pego, você será executado! E se tiver sorte, talvez eles não selem você ou façam alguma lavagem cerebral! – Proferiu Valna entre espadadas.

MAL POSSO ESPERAR PRA ABATER VOCÊ E O TIME DE CAÇA DELES! – Reagiu um furioso Palace, preparando um Impacto de Tyr, defendido por Valna sem muito esforço.

O Atros mais novo, se sentindo pressionado, resolveu recorrer à sua forma máxima, a do Monstro Veneravelmente Poderoso conhecido como Atroce. Era a mesma forma do irmão e as chances de uma briga igualada ou mesmo uma desvantagem contra o irmão eram grandes, mas o Atros mais novo já não quis mais arriscar. Valna, por sua vez, não quis saber de assistir e atacou o irmão no início do processo de transformação com um soco na cabeça, interrompendo prontamente a concentração e o processo do irmão.

O agora ex-Legionário caiu inconsciente no chão, deixando um Valna ainda agitado de pé. – Nada muito elegante, mas por agora resolve seu caso.

Ele se voltou para Vera, que começou a dar um olhar apavorado ao Legionário.

Você vem comigo. – Disse ele, e Vera o acompanhou pela porta do segundo andar sem dizer uma palavra. Antes de partir, Valna olhou mais uma vez para o corpo inerte e inconsciente do irmão. – Eu cuido de você depois, Palace. Por agora, eu vou dar cabo da missão.

E partiu com a Legionária que estava praticamente fazendo de refém agora, deixando o irmão inconsciente no chão.


Cal havia finalmente conseguido acalmar a menina. Não tinha explicado a ela ainda sobre a situação, e certamente não achava que aquela fosse a hora certa pra dizer o que realmente estava acontecendo.

Se sentindo melhor? – Perguntou o Cavaleiro, apenas olhando a menina de cabelos castanhos de lado, sentada em uma caixa. Ela assentiu positivamente.

Cal respirou fundo e resolveu tentar falar com ela. – Eu me chamo Cal Rasen. Você tem um nome?

– …Irma. – Respondeu ela. – Irma Aloisius.

O Construto tinha um nome. Agia e se comportava como uma menina de quinze anos. Uma menina de quinze anos que por algum motivo foi parar no pior lado da Fábrica de Robôs. Era óbvio que algo não estava encaixando na história deixada pelo cientista que falou com ele e depois por Noah.

Você não se perdeu. Você foi jogada aqui. – Deduziu Cal. – Obviamente queriam me trazer pra cá. Só não sei pra quê tentar me capturar num lugar perigoso. Talvez pra eu não chamar por ajuda dessa vez?

Espera, do que você está falando? – A menina levantou de onde estava sentada. – Eu lembro que eu levei algum golpe na cabeça e acordei aqui… Mas como assim? Eu nem te conheço!

Está prestes a conhecer, pelo visto. – Respondeu Cal, conforme ele se virava para receber os visitantes cuja mana ele tinha acabado de sentir. – Fantástico.

Irma recuou no instante em que reparou no homem ruivo de dois metros e a acompanhante de cabelos castanhos a seu lado. Cal reconhecia o ruivo muito bem como um dos Irmãos Atros, que ele havia enfrentado no ano anterior.

Resolveu dispensar seu irmão e procurar por uma prostituta no caminho pra tentar arrancar a minha cabeça? – Indagou Cal, provocando uma reação da Alquimista, que começou a preparar uma carga elétrica na mão direita.

Bem como disseram, você tem problemas em manter o bico fechado! – Vera imediatamente disparou o Trovão de Júpiter… Que acabou parando na palma da mão direita de Cal, que estava absorvendo o ataque, muito para a surpresa da Legionária novata.

Dica número um: Eletricidade não funciona comigo. – Cal prontamente disparou de volta o ataque, apenas para ser anulado pela Zanbatô de Valna, que estava animado com o desafio oferecido pelo Cavaleiro.

Quem são eles? – Perguntou Irma, ficando cada vez mais nervosa assistindo a cena. – Eles não são seus amigos, são? Quem são eles?

Eu posso dizer quem somos nós. – Respondeu Valna, com um sorriso que alargava cada vez mais em seu rosto. – Nós somos os caras que vão mostrar a você um mundo totalmente novo.

Valna estava olhando fixamente para a menina de uniforme grudada em Cal, e esse olhar só deixava a menina cada vez mais apavorada. Cal, por sua vez, sacou a Claymore e apontou instintivamente para os Legionários. – Vocês vieram pela garota.

Pois é, eu vim pela garota. – Respondeu Valna. – Porque a Legião por algum maldito motivo quer o mais novo projeto de Construtos da Rekenber, do qual ela é o protótipo.

O coração de Irma congelou naquele momento. – ...Construtos? ...Pro...tótipo?

Você não sabe falar? Faça perguntas coerentes, criatura! – Reagiu Valna, disparando um olhar furioso de Cal.

A Legião tomou conhecimento de um certo projeto de um cientista da Rekenber que insere almas de pessoas em corpos artificiais. – Vera tomou a palavra. – Almas são um tanto mais eficientes que pergaminhos de memória, se me permite dizer. E o corpo artificial é incrementado de formas aleatórias por essas almas.

Como assim? – Questionou Cal. Valna apenas assistia a explicação com um sorriso curioso.

Você sabe dos Construtos de Terceira Geração, não sabe, Rasen? – Respondeu Vera. – Permita que eu, Vera Artemis, lhe dê uma explicação do que acontece. Construtos III, como você gosta de chamar, são falhos. Um bom exemplo disso é o que acontece quando criam um corpo orgânico usando o DNA de outras pessoas, como, por exemplo, o seu. Não foi assim que um dos recrutados da Legião nasceu?

Ora, sua… – Cal prontamente reconheceu o perfil de Omni Ferus na história de Vera.

Seu amiguinho Ferus é uma prova do quão instável um Construto III pode ser. E obviamente, só existe uma única amostra da Quarta Geração, habitando esta fábrica e atendendo por Kiehl, também conhecido como o D-01, que basicamente fez isso a si mesmo. Um belo avanço tecnológico que não deu em nada, tanto para ele quanto pras crianças que ele sequestrou, adaptou e fez lavagem cerebral. – Continuava Vera, deixando Irma cada vez mais em choque a cada palavra proferida. Cal, por sua vez, não tinha como negar a informação que Vera cuspia.

Por isso a Rekenber decidiu investir em um novo projeto quando um Alquimista de nome Noah Spikier… – O nome disparou uma sirene soando violentamente na mente de Cal – …Apareceu mostrando como almas trazidas de Niflheim poderiam alimentar corpos orgânicos artificiais e não trazer consequência alguma. Eles obviamente acataram a ideia, resultando na Quinta Geração de Construtos. Da qual a menina ali é simplesmente a cópia de avaliação.

Cal imediatamente voltou seus olhos para uma catatônica Irma, lágrimas saindo dos olhos e reações basicamente ausentes. O Cavaleiro imediatamente voltou seus olhos para a dupla de Legionários, visivelmente disposto a matar os dois só com a força do olhar se possível.

Agora imagina que situação legal. – Valna, sorrindo, sacava sua espada, já esperando por um confronto com Cal. – Os caras da Rekenber pegam e jogam o protótipo sem explicação nenhuma na Fábrica de Robôs, não contam NADINHA ao cientista que colocou a menina no colégio. Aí eles fazem o cara contatar você pra ir buscar a menina, já que você é, tipo, o único RETARDADO em quem ele confia.

Coisa boa ele ter me contado a participação dele na parada toda, não foi? – Respondeu Cal, já não se incomodando mais em saber do bem-estar já terrivelmente abalado da menina a seu lado. – Coisa boa também ele saber que eu não sou retardado o bastante pra cair pros cientistas ou pra vocês sem antes implodir essa porra toda aqui.

Você não é tão forte assim, qual é. – Desafiou Valna. – É só perguntar pro meu irmão–ah é. Eu nocauteei ele na porta do elevador da Fábrica quando o retardado tentou me parar. Parece que a missão era… imoral demais pra ele.

Então… – Vera interferiu na conversa. – Não deveríamos acabar com isso antes que isso chamasse a atenção do D-01? Sabe, ele também quer a menina.

TODO MUNDO quer a menina. – Respondeu Valna. – Parece que ela é a bomba atômica PERFEITA pra todo mundo, só pela ideia de que ela possui poder mágico ilimitado como diz as notas roubadas do Spikier.

Que tal a gente prosseguir com a palhaçada então? – Cal finalmente avançou com a Claymore eletrificada em punho contra Valna. Este esquivou do ataque e tentou descer sua Zanbatô contra Cal, que saltou para o lado enquanto a enorme arma acertava o chão, que explodia em pedaços de piso com a força do ataque.

Valna, porém, não parou ali, e imediatamente pulou em Cal, desferindo uma sequência de Impactos de Tyr. Cal dava seu melhor para defender cada ataque, mas eventualmente foi acertado por um dos golpes, sendo puxado para o peito de Valna no primeiro ataque e então arremessado contra a parede no segundo.

Errr, argh… Isso doeu. – Reagiu Cal, se levantando com a espada na mão e chacoalhando a cabeça enquanto se recuperava. – Meu prêmio por não usar armadura.

Cal mal teve tempo de levantar a cabeça para ver Valna novamente avançando contra ele. Novamente, Valna resolveu a situação com um forte cruzado de direita na cabeça de Cal, prontamente nocauteando o Cavaleiro. Valna, admirado com sua vitória, prontamente beijou seu punho direito. – Punho mágico, resolve TUDO.

Vera, por sua vez, já estava com Irma em mãos enquanto Valna resolvia a situação com Cal. A menina estava totalmente em choque, a ponto de sequer esboçar uma reação quando foi agarrada pela cintura e jogada novamente sobre os ombros de alguém. – É, quebrar psicologicamente funciona pra acalmar.

Vera prontamente olhou para o recém-nocauteado Cal e suspirou. – Ele é um bom pedaço de mau caminho. Vai mesmo deixar ele pra morrer aqui?

Nah, ele não vai morrer agora. Provavelmente vai ser mutilado em Regenschrim como os outros seis. – Respondeu Valna, que chamava Vera para sair do local, sua missão aparentemente cumprida. – Dimitri nos espera. Ele vai gozar legal quando souber que eu cumpri praticamente sozinho a missão. Dá até pra deixar o Palace aqui e ver como os cientistas se saem contra ele.

Os dois caminhavam agora em direção à saída da Fábrica de Robôs, Vera carregando a catatônica Irma nas costas. Valna não conseguia parar de se gabar da vitória que havia acabado de conseguir. – Uma pena que a luta não durou nada. Esperava um pouco mais de desafio do cara que ajudou a vencer a Batalha de Sograt.


As vozes dos dois ficavam cada vez mais distantes, enquanto Cal era deixado inconsciente no chão de um local perigoso.

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Com isso, mais um episódio do começo da história do Cal aparece aqui pra dar mais vida a esse blog.

Tou meio sem discurso pra ficar descrevendo o lance todo, mas já é bastante óbvio como todo o contexto do primeiro livro original foi transformado e re-adaptado. Cenas retrabalhadas e reações menos clichês são a chave pra melhorar a escrita.