sábado, 17 de outubro de 2015

Equilátero: Capítulo 7: Superpoder

Equilátero: Redenção de Cal Rasen


Capítulo 7: Superpoder


Casa de Cal, Leste de Izlude.

Elsa apenas ficava olhando para a garota deprimida diante da janela em direção ao Mjolnir. Parada, imóvel. Irma não saía de lá desde que chegou de Prontera. A Alice sabia que as coisas não podiam estar certas com a garota. Desde que ela havia chegado em casa, ela só fazia chorar e olhar naquela direção. Mas agora, Irma estava estranhamente quieta.

- Irma... Você está bem? - Perguntou Elsa.

A maga não reagiu. Mantinha os olhos vidrados em direção às montanhas sem esboçar reação nenhuma.

- Cal vai ficar bem. Eu confio nele. Você não? - Elsa tentou animar a garota, mas ela continuou imóvel como uma pedra.

Ela estava inerte. Quase como se não houvesse mais vida em seu corpo. Ela só iria demonstrar algum mínimo de resposta física a algo de fora se esse algo tivesse relação com Cal. Zy já havia notado isso no tempo que passou com ela; a garota era extremamente dependente de Cal. A separação forçada pelo coma do Cavaleiro não mudou muito disso, uma vez que Irma havia começado a treinar para se virar por conta própria.

Irma só viria a demonstrar algum movimento ao finalmente notar algo diferente no ar. Ela agora sentia a mana de Cal enfraquecer, enquanto a de Ferus aumentava ainda mais.

E então, uma sensação fria tomou seu corpo como por assalto. Ela levantou, com o corpo altamente trêmulo. Pronunciou algo que Elsa não conseguiu ouvir, mesmo com os sensores auditivos no máximo. E então o impulso mais violento a fez saltar pela janela de casa, em direção à rua, pousando em pé. Irma começou a correr com toda a força que suas pernas possuíam, em direção à saída de Izlude.

Foi o bastante para que Elsa ficasse apavorada e confusa. E então, ela pensou que a única coisa que ela podia fazer era avisar Johan e Zy, naquele momento parados no Café Delight, quase do outro lado da rua onde a casa de Cal ficava.






Osthreinsburg, Capela destruída.


A luta entre Cal e Ferus estava finalmente chegando ao ápice. O ser sinistro estava demonstrando mais força do que antes, com golpes cada vez mais ferozes. Enquanto o Cavaleiro estava finalmente notando que marcas brilhantes surgiam pelo corpo negro de seu clone.

- Esse poder, Cal. Esse é o poder que SUA FAMÍLIA concedeu à MINHA EXISTÊNCIA! Pode sentir isso, Cal? Pode sentir o poder que vai ENCERRAR SUA VIDA??
Ferus, que estava chocando sua espada com a de Cal, liberou então uma poderosa energia dourada, junto ao Impacto de Tyr, que mandou seu adversário voando até o pilar no canto.

Era notável que o Cavaleiro estava com problemas. Sua armadura, mesmo resistindo a trancos semelhantes, não era indestrutível e já começava a apresentar rachaduras, sinalizando que os danos estavam começando a exceder a resistência da mesma. 

O predador, caminhando na direção da vítima, o olhou, mas não com seu tom costumeiro de fúria. Para o Construto, era finalmente a chance de entender o quão diferentes os dois eram.

- Sua resistência. Sua persistência. Eu não consigo pensar em nada mais além do quão interessante você é, pelo jeito que você é. De todas as pessoas que eu já matei, que eu já enfrentei, você é a mais teimosa, a mais persistente! QUAL É O SENTIDO DISSO?

Cal se levantava para continuar lutando. Ele entendia as palavras de Ferus.

- E você? Qual é o seu problema com esse mundo? O que faz você querer tanto destruir esse mundo?

Ferus começou a rir. O questionamento de Cal ao propósito dele parecia totalmente alienígena. - Você é uma pessoa muito engraçada.

E então seus olhos escureceram como se estivessem apagados. Seu corpo começou a brilhar e seu cabelo branco assumiu um intenso brilho dourado, assim como os riscos no rosto. Uma marca na forma de uma ave surgiu em seu peito. Sua voz, conforme seu discurso era pronunciado, se tornou tenebrosa.

- Este mundo que você defende é um lugar podre. Este lugar cobra TUDO de você, ele TOMA TUDO de você. Não importa quanto você se esforçe, não importa o quanto de si você entregue a este mundo, não importa se você quer apenas ter uma vida tranquila ao lado das pessoas que ama, VOCÊ PERDERÁ TUDO! Entende a desgraça disso, Cal? A desgraça de ser TOTALMENTE IMPOTENTE enquanto O SEU MUNDO DESABA?

Ferus apontou sua espada para o cavaleiro e o mesmo correu na direção do Construto, pegando sua espada no caminho. Os dois chocaram suas armas e estavam forçando com tudo. A aura de Cal brilhava como nunca, mas ainda assim aparentava não ser o bastante para conseguir igualar o tamanho poder que fluía do corpo de seu adversário. E o discurso de Ferus continuava com toda a fúria apresentada nele.

- Seus esforços, suas crenças, SUA ALMA, NADA DISSO IMPORTA PRA ESTE MUNDO DOENTE! NÓS NUNCA SEREMOS FELIZES, CAL! NÓS NUNCA TEREMOS AQUILO QUE MAIS QUEREMOS! - Os olhos de Ferus então focaram nos de Cal. - E você sabe qual é a parte engraçada disso tudo?

Naquele momento, os olhos de ambos se travaram um no outro. O sorriso no rosto de Ferus alargava conforme seu discurso prosseguia.

- Só existe um abismo no final do caminho. Com nós dois, um em cada beirada. Esperando. Aguardando pelo momento em que O PRIMEIRO IRÁ DECIDIR POR PULAR PARA A MORTE!

Foi um momento que durou para sempre, mas ao menos tempo, não era menos do que dois segundos. Dois segundos que culminaram na aura de Cal explodindo. Seus olhos furiosos focando Ferus, o sorriso na boca daquele demônio que ele estava tão determinado a matar. E o outro só conseguia esboçar uma reação.

- Sim... Essa expressão, ESSE PODER. O MESMO PODER QUE VOCÊ DEMONSTROU NA TORRE DA LEGIÃO! A MESMA AUSÊNCIA DE ALMA, ERA ISSO QUE EU QUERIA!!!

Uma gigantesca luz verde explodiu dentro da capela. Mas não a mesma luz verde que o cavaleiro estava acostumado a emanar, era um brilho mais escuro, quase uma luz negra. Por um momento, aquela luz assumiu o tom mais escuro e logo depois ela se tornou a luz mais clara possível.

Osthreinsburg foi engolida por luz verde naquele momento.





Siegfried olhava calmamente do Monte Mjolnir para a luz verde que iluminava a escuridão do entardecer chuvoso. Osthreinsburg estava sendo iluminada por aquele combate.


- Então... Este é o clímax... - Dizia Siegfried, como se estivesse prevendo como seria aquele combate todo. - Lute, Cal. Com todas as suas forças.

Hilde apenas olhava para Siegfried, apreensiva. Ao mesmo tempo em que podia sentir a energia vindo do local, a onda de choque na forma da mana de dois guerreiros extremamente poderosos.





Durante aquele minuto, Cal havia se soltado da colisão de espadas e avançado na mais poderosa Lâmina Trovão que poderia disparar. Mas algo inesperado aconteceu e então a luz se dissipou. Uma grande cratera havia ficado onde a explosão tinha tido seu lugar. 

Era possível ver a mana fluindo em ondas de choque violentamente pelo local, como se uma reação nuclear tivesse sido disparada. Foi quando o Cavaleiro apareceu, sendo segurado pelo pescoço por Ferus. Cal, inexplicavelmente, sentia algo dentro de si ser drenado. Podia ver seu inimigo inflando o peito e puxando todo o ar que conseguia. Em pouco tempo seu corpo perdeu toda a energia que tinha.

O clone havia conseguido engolir a massa de luz que estava presa em seu peito. Tinha acabado de absorver a energia do cavaleiro, a mesma que havia passado de gerações em gerações até chegar ao seu atual dono. Ferus sorriu satisfeito, conforme seu cabelo começava a brilhar num branco luminoso prestes a cegar.

- Impossível... Essa habilidade... A mesma do Covee... - Dizia Cal, tentando se soltar da mão esquerda do Construto. Ele havia reconhecido a habilidade de John Covee de drenar energia das pessoas, mas Ferus havia modificado essa habilidade para um propósito diferente. Ele estava usando essa habilidade para drenar a mana de Cal para si.

- Sim, eu finalmente consegui. EU TENHO O SEU PODER! E TUDO GRAÇAS AO RETARDADO QUE SALVOU A VIDA DE SUA IRMAZINHA!!! - O sorriso de Ferus de orelha a orelha não poderia ser o bastante para descrever a emoção que ele sentia. Para o Construto, aquilo era quase uma masturbação.

- Seu... Desgraçado... - Cal mal tinha forças para reagir a essa altura do campeonato. - Então foi isso que você fez com o meu irmão...

- SIM, AQUELE PEDAÇO INÚTIL, AQUELE SIMULACRO QUE FINGIA SER SEU IRMÃO! UMA CÓPIA DE UM PRA UM DOS PODERES DELE, E EU ABSORVI COMO SE FOSSE O ARTIGO ORIGINAL!

A mente de Cal parou ali, naquela resposta. Simulacro? Uma "cópia pirata" de seu irmão? Merjon ainda estaria vivo? Se sim, quem era aquela pessoa que Cal encarou dois anos antes no Planalto de El Mes? No entanto, aquilo ali poderia nem importar mais. Ferus agora tinha o equivalente a toda a geração atual de sua família em poder. E estava prestes a dar uma demonstração em primeira mão desse poder a Cal.

O ser, agora aparentemente invencível, saltou sem soltar o pescoço do rival e deu um movimento giratório no ar. Ele arremessou o cavaleiro contra o chão com uma força jamais antes vista.

O tempo pareceu parar para Cal conforme ele era arremessado. Os olhos amarelados daquele monstro eram uma demonstração de sua insanidade e ao mesmo tempo a satisfação de ter conseguido tudo aquilo que sempre quis. E a incredulidade do Cavaleiro fez com que o tempo voltasse a correr com força total. Como se estivesse batendo contra ele. Como se tivesse descido uma montanha em queda livre e acertado o chão com tudo. Porque era exatamente o que Ferus tinha acabado de fazer com ele.

O instante seguinte se resumiu a Cal se chocando contra o chão a uma velocidade na qual seus ossos teriam se espatifado com facilidade, não fosse a armadura que ele estava usando. Sua indumentária, aliás, voava em pedaços pelo ar, conforme rodopiava pelo impacto em direção à próxima colisão com o chão. Ferus havia explodido o equipamento no corpo dele, tamanha a força com que havia arremessado seu inimigo ao chão. E o mesmo homem continuou rolando em altíssima velocidade e colidindo em tudo pelo caminho, enquanto ia contra direção de um pilar.

Naquele momento, Cal sentiu como se suas costas estivessem prestes a se estilhaçar pela violência em que foi arremessado. Ele não conseguia reagir e seu corpo, com a velocidade de um meteoro, derrubou o pilar como uma árvore acertada por uma rocha iria ao chão.

O prazer de Ferus a essa altura do campeonato era comparável ao de um orgasmo. Seu corpo tremia com a excitação causada pelo poder supremo em suas mãos. E ele ainda queria sentir mais. Ou pelo menos terminar de quebrar seu oponente, já praticamente arrebentado por seu último movimento.

Ferus então tomou sua decisão. O construto pegou sua espada e simplesmente caminhou em direção ao centro do caos que havia causado com seu golpe.

Apesar da força violentíssima, o Cavaleiro se levantava, mesmo com boa parte do equipamento caindo aos pedaços. As costelas quebradas provocaram uma dor lancinante por todo o corpo. Cal fazia toda a força que podia para conseguir apenas ficar de pé.

Porém, antes de poder reagir, sentiu um forte empurrão para trás, lhe deixando completamente em postura ereta. Os olhos arregalaram, ao passo que ele via o sorriso maníaco de Omni Ferus. Sangue voou de sua boca conforme ele tossia. Ao olhar para baixo, havia finalmente percebido que seu inimigo havia atravessado ele com força total, usando a espada de ônix.

- N.. Não... - Sangue vertia de sua boca enquanto o grito causado por sua derrota entalava completamente em sua garganta.

- Sim... SIM... SIM! - O "orgasmo" de Ferus estava finalmente completo. A sensação de vitória, de conquista, de realização. Seus sonhos estavam finalmente realizados. E como um toque final, Ferus chutou o peito do Cavaleiro com tudo, ao passo em que puxava a espada de volta.

Cal caiu inerte ao chão, incapaz de se mexer, com um enorme buraco em seu peito. E a imensa dor da derrota, muito superior a física, tomava-o por completo. Toda força que lhe restava era apenas para observar Ferus caminhava ao seu lado. Cal havia fracassado. Estava morrendo.

- E agora, o momento MAIS ESPERADO da história! O SEU FIM!

O Construto ergueu sua espada, visando decapitar seu oponente com apenas um golpe. Para o Cavaleiro, só lhe restava a morte.


OFF


Uma coisa que eu gostei de fazer ao reescrever esse capítulo foi remover completamente uma cena, em troca de expandir imensamente as cenas na batalha entra Cal e Ferus. Usei essa expansão para poder ampliar um pouco a lore, criar coisas nas quais eu não tinha pensado originalmente, criando brechas  pra novos arcos.

Outra coisa é a cena que eu removi: além de envolver uma pessoa com quem eu não possuo mais amizade, a cena era totalmente irrelevante. Eu pensei em criar uma cena pra substituir, mas quando chegou a hora do vamos ver, me veio a epifania de que a melhor ideia era remover completamente a cena, como se ela jamais tivesse ocorrido. Simples assim.

Não sei o quão mais trabalhoso vai ser reescrever o oitavo capítulo. Vai ter uma cena que eu vou ter que fazer do zero. Mas eu sei que reescrever o sétimo acabou me dando elementos que eu certamente vou usar em Escaleno.

No fim das contas, Ferus previu mesmo que Cal iria acabar se afundando em desgraça. Ou ao menos em torno de uma.

Viridis: Capítulo 2: Primeiro Contato

- Como nenhum de nós viu isso?

Era Leafar questionando Cal conforme a conversa andava. Alguns minutos de conversa, e os dois tinham discutido sobre forçar o Dragão a retornar a Rune-Midgard, as circunstâncias de tais eventos, e eventualmente chegaram no assunto principal: a menina de cabelos castanhos.

- Cal, como você tem certeza de que ela pode ser, você sabe... como a Freya? - Indagou Leafar.

- Só sei o que o Johan sabe. - Respondeu o Blitzriter. - E o que ele sabe é que uma menina com aparência quase igual à da Freya está por aí tem uns três anos, numa escola cara de Geffen. Ela foi encontrada sozinha, não tinha família, o diretor da escola a acolheu. Se pararmos pra pensar...

- ...Foram as mesmas condições nas quais os Cultistas de Freya encontraram a nossa Freya. - Completou Leafar. - Ainda não explica o que faz vocês acharem que o caso dessa menina é o mesmo. Já ouviu falar do ditado dos sete sósias?

- Calma que tem a outra parte da história que o Johan me mandou. - Disse Cal, esticando os braços ao alto conforme se espreguiçava. - Essa é a vantagem de ter um membro da Ordem dos Assassinos como amigo, eles literalmente espionam as pessoas. E a garota tem comentado um bocado sobre sonhos estranhos com Valquírias... E dois Cavaleiros.

Os olhos de Leafar congelaram em Cal por um momento, então ele tornou a pegar as fotos da garota que estavam sobre a mesa. - Isso é loucura.

- Tão louco quanto enfrentar uma Valquíria porque você estava marcado pra morrer por uma profecia de Odin? Ou enfrentar uma versão entupida de steroids mágicos de seu próprio pai tentando se tornar o novo Demiurge? Ou melhor ainda, que tal falarmos dos eventos de três meses atrás--

- Não vamos conversar sobre isso. - Leafar interrompeu Cal prontamente, dando um olhar severo.

- O que eu estou dizendo - Resumiu Cal, sem cerimônia - é que isso é algo que talvez valha a pena ser visto. Qual é, vai me dizer que não está sequer cogitando a possibilidade dessa ser sua segunda chance?

- Não é assim que funciona, Cal. - Respondeu o louro. - Eu não quero uma substituta pra Freya.

- Não estamos falando de substituir pessoas. Estamos falando de redimir seus próprios erros.

Houve um silêncio tenso entre os dois naquele momento. Os dois se encararam por um momento. O caso de Freya Belmont sempre foi um assunto bastante delicado para Leafar e para Cal. Especialmente considerando o fato de que a morte da menina, dois anos antes, disparou duas lutas entre os dois, meses depois. Era um evento ainda fresco na memória dos dois, mas não o bastante para afetar a amizade que tinha começado a se formar a partir da segunda luta.

No fim das contas, Cal e Leafar haviam começado uma amizade a partir do único sentimento que os dois tinham em comum no momento: a dor pela perda de Freya. Cal acabou eventualmente conhecendo os demônios de Leafar, enquanto este viu Cal tendo que lidar com seus próprios demônios.

- Isso não é como você tentando consertar sua relação com a Irma ou se livrar dos antidepressivos. - Disse Leafar, se referindo a dois problemas com o qual Cal lidou no ano anterior. - É muito mais complicado que isso e você sabe disso. O que fizermos ali não vai trazer ela de volta.

- Mas vai impedir que uma outra versão dela surja. - A resposta de Cal foi o bastante pra convencer Leafar. - Você tem razão, isso não vai trazer a Freya de volta. Tampouco vai fazer você se sentir menos culpado pelo que aconteceu com ela. Mas é graças a essa merda toda que nós sabemos exatamente o que fazer com o caso seguinte: nós podemos tirar ela do alcance de quem pode ferir ou usar ela. E honestamente, você sabe que eu quero muito dar esse gosto amargo pra Niren.

Leafar permaneceu calado por mais um momento. Tornou a olhar para as fotos da menina, em especial uma em que ela estava com uma garota ruiva, de cabelos curtos, usando o mesmo uniforme de escola. - Não sei ainda se eu vou topar essa parada. Mas eu estou interessado em ver essa garota com meus próprios olhos.

A resposta de Leafar deixou um sorriso tranquilo em Cal. - Bom saber disso. 'Bora pra Geffen então?

Leafar acenou positivamente com a cabeça, guardando as fotos no bolso de sua jaqueta. Pegou os óculos azuis que havia deixado sobre a mesinha da sala de estar, e os dois finalmente se dirigiam para fora da sala.

A rota mais rápida para Geffen, para Cal, era usar a ajuda da Kafra que trabalhava na base, Alma, que não por coincidência, Leafar também já conhecia, do encontro com Cal em Moscóvia anos antes. Cal contaria com a ajuda dela para cortar caminho e teleportar direto para Geffen com Leafar.

Pelo caminho, Leafar parou por um momento, olhando para uma placa cheia de cartazes pendurados com tachinhas.

- Sabe, Cal, mais de um ano que eu conheço esse lugar e eu nunca realmente prestei atenção no que o seu clã faz. - Disse Leafar, se aproximando da placa e olhando para a imagem de um grande monstro roxo de quatro patas, com aparência similar ao que poderia ser descrito como a mistura de um touro com um leão. - Oficialmente vocês da Thurisaz são a contra-proposta tecnológica da Rekenber, certo? Mas eu fico olhando pra essa placa cheia de pedidos bizarros e não consigo deixar de ver similaridades com o que o Grupo Eden faz. Então... O que seu clã faz mesmo?

Cal deu outro sorriso confiante e se aproximou da placa, prestando atenção no cartaz de dito monstro roxo. Era conhecido como Behemoth, e ele estava causando problemas nos arredores de Geffen. Normalmente ele ficava na área frequentada pelos Grand Orcs, bem a oeste da cidade, mas desde que a área foi fechada após o Voluspá e a Renovação, o monstro deixou de ter medo até dos Orcs que viviam no local e passou a atacar pessoas andando pelas proximidades de Geffen e Glast Heim, cada vez mais perto da Cidade da Magia. Isso fez com que um membro da Guilda dos Magos postasse essa petição para que alguém trouxesse um fim à ameaça.

- O que fazemos - Cal dizia, pegando o papel com a petição do Behemoth - é justamente o que o Grupo Eden não tem a capacidade pra fazer.





Introdução normal


Viridis

Capítulo 2: Primeiro Contato


Academia Rodworth, na frente do portão, 12:41.

O tempo parecia andar muito lentamente para Selena. Tão lento quanto o deslocamento dos continentes, se ela pudesse naquele momento dar uma descrição para o frio na barriga que ela estava sentindo com relação a isso. Era a ansiedade de não saber o que iria acontecer em seguida, porque ela havia acabado de comprar uma briga com Felicia Hardy, basicamente a garota mais agressiva do colégio.

Mia apenas olhava para Selena, apreensiva. Normalmente era ela quem tirava a garota de olhos bicolores de encrenca, mas Selena havia insistido para fazer as coisas sozinha dessa vez. Lutar sozinha.

O problema era que Selena não sabia lutar sozinha. Ou sequer sabia lutar. Ela não levava o menor jeito para a coisa. E agora Mia podia se imaginar carregando Selena para o hospital, depois da garota levar uma surra pesada de Felicia. E como se não fosse o bastante, havia uma plateia para assistir o evento, uma vez que poucos alunos podiam espalhar o anúncio de uma briga de garotas como um vírus tomando um computador.

Se já não havia silêncio naquele momento, o barulho apenas aumentou quando dita garota finalmente chegou ao local indicado. Olhos verdes, cabelos louros, quase prateados. O físico era robusto, mas não o bastante para que ela fosse musculosa ou gorda. Felicia estava finalmente no recinto, e Selena não tinha a menor ideia do que fazer para se livrar dessa situação.

- Espero que já tenha reservado sua vaga num quarto de hospital para a próxima semana, Selena. - Disse Felicia. - Porque aqui, fora do colégio, eu posso fazer o que eu quiser com você.

Não houve reação da menina de cabelos castanhos. Ela estava paralisada naquele momento, muito provavelmente por medo. Felicia prosseguiu. - Que ótimo, já podemos começar.

E a loura avançou. E Selena ainda parecia parada no tempo. Felicia mandou um cruzado de esquerda, mas por algum motivo, Selena sentiu seu corpo se atirando para a esquerda, como se outra coisa a comandasse a se esquivar. Apenas quando sua oponente emendou o primeiro soco com um segundo aplicado com sucesso contra o estômago de Selena, foi que esta finalmente saiu do transe.

Os olhos de Selena arregalaram conforme ela sentia o golpe acertar o estômago e reverberar pelo resto do corpo, enquanto Felicia levantou um sorriso sinistro pelo lado direito da garota. Tirou prontamente o punho do estômago e empurrou a mesma palma contra o peito de sua oponente, forçando-a para trás e esperando que ela caísse sentada no chão. Não foi o que aconteceu, uma vez que Selena por algum motivo retomou o equilíbrio do corpo.

E então, sem muita explicação, o punho direito de Selena fechou, ignorado por uma Felicia já certa de sua vitória.

- Se isso é tudo o que você pode fazer, eu já-- Felicia foi prontamente surpreendida por uma ação rápida de Selena, um soco de direita que ela mesma não sabia como havia desferido. Um soco que conseguiu fazer Felicia dobrar para a sua direita, olhando para o vazio em choque.

Naquele momento, todos ao redor olharam espantados para a cena. Selena havia conseguido acertar um soco, mesmo que torto, em Felicia. Esta ficou parada, naquela posição, por alguns segundos, perplexa pelo evento. E então seus olhos vergaram para a fúria e se voltaram para Selena. A jovem não teve muito tempo para reagir, conforme Felicia finalmente avançava para cima, sem dizer mais nada.

Selena conseguiu esquivar do primeiro soco, mas era lenta demais para fugir de uma sequência, e o punho direito de Felicia encontrou rapidamente com o rosto da garota. Felicia, porém, continuava muda, furiosa, e agarru Selena pela manga esquerda da camisa, puxando-a de volta para sua fúria. Selena sentiu a joelhada forte em seu estômago lhe tirar o ar por alguns segundos, ignorando o fato de que sua oponente agora lhe segurava pela camisa.

Mia cerrou os punhos e ameaçou avançar, mas Selena ainda tinha forças pra falar e freou Mia à distância. - Não entra nessa briga, eu posso fazer isso!

Selena se recobrou e tentou reagir, mas Felicia a empurrou com força, derrubando-a no chão. Não houve tempo para ela se levantar; sua agressora imediatamente desceu em cima dela, puxando-a pela gravata e disparando um forte soco de direita. Selena então sentiu sua consciência deslizar para fora do mundo real por um instante, e então voltar, com a visão borrada, sem saber se era pelas lágrimas ou pelo choque do golpe que havia acabado de levar. Selena ainda conseguia sentir a gravata ainda na mão esquerda de Felicia, indicação de que ela iria continuar batendo nela até que sua consciência se esvaísse.. Ou algo maior e pior acontecesse.

A plateia, que antes estava excitada pela luta que ocorria ali, agora havia ficado completamente quieta, sem saber como reagir ao novo nível de violência. Naquele momento, Mia já não conseguia mais se conter. Ela finalmente deu um passo adiante, se preparando para avançar, quando um homem de jaqueta de couro marrom passou na sua frente, avançando em direção à dupla que lutava.

Selena manteve os olhos fechados, sentindo a dor forte do soco. Esperava pelo próximo, mas ele não veio. Ela se esforçou para abrir os olhos e notar que o braço direito de Felicia agora era segurado pela mão direita de um louro de jaqueta e um olhar perfurante, direcionado à agressora.

- Essa palhaçada acaba aqui. - Disse o homem. - Desmonta da garota, agora.

- Quem você pensa que é para me interromper dessa... - A voz de Felicia morreu ao instante em que ela finalmente encontrou seus olhos com o rosto daquele homem.

- Eu sou o cara pra quem o Rei Ernst reclama quando uma estátua de mármore fica três centímetros fora do lugar. - Disse ele, levantando a cabeça e removendo seu rosto das sombras, revelando os olhos castanhos. - Também conhecido como Cal Rasen, obrigado.

Selena congelou ali. Desde seu estômago, passando por seus pulmões e chegando aos seus olhos, travados naquele que era conhecido como o Blitzritter.

Era justamente uma das pessoas sobre as quais ela e Mia estavam conversando antes de toda a bagunça da briga com Felicia começar.

Mia estava igualmente impotente diante daquela cena. Jamais imaginaria que Cal Rasen fosse maluco o bastante de se aproximar da escola onde estudava. Mia havia dito que estava acompanhando algumas das lutas de Cal, mas a verdade é que a garota havia acabado criando certa fascinação pela determinação do Blitzritter. O suficiente para que ela mesma tivesse resolvido começar a treinar por conta própria.

- Eu sou Felicia Hardy, filha de... - Cal não quis nem saber e interrompeu a garota de novo.

- É o seguinte, Gata Negra, ou você sai de cima dessa garota, ou eu vou ensinar ela a brigar... Usando você como boneco de treinamento. - A voz de Cal, apesar da piada, era séria o bastante. Felicia finalmente soltou a gravata de Selena, cuja cabeça pousou ao chão dos poucos centímetros de altura ao qual havia sido puxada.

Os outros alunos ao redor da cena estavam confusos. No minuto anterior, Selena estava prestes a ser trucidada por uma garota muito mais experiente que ela numa briga. E agora, como que por mágica, Cal Rasen, o Blitzritter, líder da Thurisaz, estava tirando a menina da encrenca quase como se tivesse sido chamado ao local. A verdade era que Cal havia ido até a escola de propósito... Só não esperava ter se deparado com uma briga típica entre bully e garota impopular.

Felicia se afastou de Cal, deixando soltar de canto um "Isso ainda não acabou", que não passou despercebido ao Cavaleiro Rúnico. Cal, porém, apenas ignorou aquilo e procedeu. - O circo acabou, podem ir pra casa.

Os outros alunos, com exceção de Mia, ainda estupefata, se afastaram do local, deixando Selena em paz. Esta, ainda deitada no chão, estava sem reação, olhando fixamente para Cal, que estendeu a mão direita para ajudá-la a se levantar.

- É, o olho esquerdo vai ficar roxo por uns dias, mas você vai ficar bem. - Selena se esforçou para abrir o olho esquerdo naquele momento, enquanto estendia o braço para se levantar com ajuda de Cal.

Naquele momento, o Cavaleiro conseguiu ver claramente a cor dos dois olhos da garota. O olho direito era de um azul real, vivo. O esquerdo, um amarelo vivo, dourado, brilhante. Não ajudava que o penteado da garota, normalmente com duas mechas de cabelo jogadas para a frente em cada lado do rosto, a tornasse quase que um "recolor" de Freya.

E então, ao finalmente conseguir ficar de pé, Selena notou que Cal agora olhava estático para ela. Ela nem se importou em ajeitar o uniforme, reparando apenas no fato de que o Cavaleiro Rúnico a olhava como quem olhava para o fantasma de um ente querido morto. Cal, enquanto isso, estava totalmente fixo no rosto da menina. Até as feições eram ridiculamente similares, ainda que não as mesmas.

A menina estava assustada com o evento, mas por outro motivo. Agora ela estava cara a cara com um dos homens de seu sonho. Não era mais uma imagem borrada, envolta em energia; Cal Rasen estava diante dela, ao vivo, em cores. Não foi difícil o Cavaleiro Rúnico finalmente notar o olhar dela de que ela já o conhecia de algum lugar.

"Então o lance dos sonhos era verdade", ele pensava consigo mesmo. Ele finalmente saiu daquele momento e retomou sua compostura de sempre, dando um sorriso simples. - Você definitivamente precisa aprender a lutar. Não pode simplesmente deixar sua adrenalina fazer o trabalho.

Selena permaneceu quieta, apenas olhando para Cal, que finalmente deu meia volta e saiu andando calmamente, ao qual Mia finalmente reagiu. - Ei, espera. Você sabe alguma coisa sobre Valquírias?

Cal já havia passado pela ruiva quando a pergunta dela o parou. Cal olhou de canto para ela e deu sua resposta. - O que eu sei é que elas não costumam ser boas notícias. Sugiro que não procurem por uma.

Cal retomou seu caminho, enquanto Mia olhava para ele, sem entender a resposta. Ela preferiu não insistir; havia uma outra situação em mãos agora. Ela notou Selena parada, ainda no estado em que havia acabado de sair daquela briga. Mia então caminhou para a amiga. - Vem, vamos cuidar do olho roxo.

Selena saiu daquele transe naquele momento e passou a seguir Mia na direção oposta à da qual Cal estava andando.

Enquanto isso, o Cavaleiro do Relâmpago, já distante das duas, agora estava próximo a um perplexo Leafar. Passou por ele, e parou, costa a costa com o Dragão. - E aí, o que acha?

Os olhos verdes do louro estavam vidrados. Era uma versão pior da reação que Cal teve. Leafar não tinha visto apenas uma cópia de Freya na garota, mesmo à distância; aos olhos dele, era quase como um fantasma dela, em todos os sentidos.

- ...É a própria imagem dela. Cores diferentes, mas eu reconheceria aquele rosto em qualquer canto do planeta. - Os dois permaneceram parados por um instante até que a mente de Leafar começou a gradualmente sair do choque. - Cal. Que merda é aquela?

- Essa merda - Respondeu Cal - muito provavelmente é outra Valquíria vivendo como uma humana. Chame de teoria louca, do que quiser, mas a reação dela a mim foi bem real.

- A essa altura do campeonato, loucura é algo que eu posso chamar de estilo de vida. - Reagiu Leafar, olhando para as duas garotas ao longe, antes de dobrarem a esquina e desaparecerem na cidade.

O dia havia apenas começado para os dois Cavaleiros Rúnicos.



OFF




Demorou um bocado e pelo visto eu vou ter que deixar pro Rafa avaliar um capítulo postado, mas eu já tinha esse aqui armado.

E o Rafa tem me dado mais confiança pra escrever o material baseado no Leafar, e eu dou a sorte de ter amplo conhecimento do trabalho e dos eventos em torno dele.

Uma coisa que eu notei conforme eu relia o que eu escrevi é como eu acabei criando um Cal Rasen bem mais experiente também, um que já sabe melhor o que fazer, mais calmo, menos raivoso. E pensar que eu estou a escrever o terceiro capítulo de Escaleno, relatando justamente um Cal oposto ao que era, mais de um ano antes dos eventos de Viridis.

Enfim...