sexta-feira, 27 de abril de 2018

Equilátero: Capítulo 8: Renascimento

Equilátero: Redenção de Cal Rasen


Capítulo 8 - Renascimento


Café Delight, Izlude, 18:21.

O Café Delight era um ponto na área leste de Izlude onde as pessoas sempre costumavam passar. Para Zy, era um ponto onde ele podia vir com seus amigos e conversar sobre a vida. Foi para isso que ele havia chamado Johan ao local. Johan e Zy estavam sentados em uma das mesas de frente para a rua. Haviam passado as últimas horas ali, conversando sobre Cal e compartilhando um mínimo de experiência. Zy ficou sabendo por meio de Johan que Cal havia decidido ir enfrentar Omni Ferus sozinho, sabendo o risco que isso posava para sua vida.

- Johan, você não fica preocupado com o Cal? - Questionou Zy ao Mercenário louro de cabelos espetados.

- Cal é homem o bastante para tomar suas próprias decisões a essa altura do campeonato. - Disse Johan, calmamente, enquanto olhava para o entardecer chuvoso. - Estou mais preocupado com o que pode acontecer se Cal perder essa luta pro Ferus.

Zy se manteve quieto por alguns segundos, e então Johan prosseguiu. - A melhor ideia na qual posso pensar é colocar Seyren, Eremes, Sorin e Keyron para enfrentarem o Ferus. São os melhores em seus campos, saberão o que fazer com uma monstruosidade daquelas.

- ...E se o Cal vencer? - Zy tentou por um segundo acreditar que as chances de Cal eram iguais às de antes. Johan, porém, permaneceu inexpressivo. Só desviou seus olhos quando uma jovem de cabelos azuis e roupas exóticas apareceu correndo na direção deles. Johan reconheceu Elsa sem esforço.

- Aconteceu algo com a Irma? - Perguntou Johan para a "Alice", que parou na frente dele e de Zy.

- Irma... Ela disparou pra fora de casa, começou a correr desesperada pra fora de Izlude... - Elsa não fazia a menor ideia do que dizer a eles. Zy instantaneamente levou as duas mãos para sua testa. Johan, porém, se virou para outra direção, distraído.

- Fala sério, quando não é o Cal fazendo porcaria, é a Irma que-- Zy foi imediatamente interrompido por Johan.

- Isso é ruim. Muito ruim.

Zy se virou curioso para Johan. - ...O que é ruim? Diz logo, homem!

- A mana de Cal caiu vertiginosamente enquanto a de Ferus aumentou. Eu já esperava isso do Ferus... Mas o caso do Cal... Eu não estranharia se isso fosse ele à beira da morte. - O olhar de Johan ficou muito mais sério naquele momento. E então esse olhar parou na direção de Zy.

Foi o bastante para que Zy disparasse para fora da cafeteria. Johan seguiu o Templário, por instinto, correndo junto com ele. Elsa, cada vez mais confusa, se limitou a gritar na tentativa de que sua voz alcançasse os dois. - Espera! O que eu digo ao Kerd!? E se ele perguntar da Irma!?

- O Kerd vai saber logo! - Gritou Zy de volta, agora correndo com Johan na direção de onde a mana de Cal vinha... E esperando que essa mana não se esvaísse por completo.






O local em que Cal estava era totalmente alienígena a ele. Não havia nada lá. Não haviam pessoas. Não havia parede ou chão. Era só um imenso branco a seu redor.

Tudo o que Cal sabia naquele momento era onde estava antes de ir parar naquele lugar. Ele conseguia se lembrar de que havia um grande rombo em seu tórax, causado pela investida letal de seu oponente. No entanto, o espaço de tempo entre o momento em que ele caiu ao chão e o momento em que ele se viu naquele espaço estranho era algo que lhe escapava completamente à memoria.

- Então... Vai mesmo deixar tudo pelo qual lutou de mão beijada a esse animal? - A voz de Johan ecoou pelo lugar. Cal podia ouví-la, mas não podia ver a origem. Ou mesmo se mexer naquele momento. - Não foi por esse resultado que você desejou. Não é esse o seu destino. Porque está desistindo dessa vez, Cal?

Outra voz então tomou posse. Cal reconheceu novamente, mas dessa vez aparentava ser a de Zy. - Eu não entendo a sua lógica, Cal. Ou a forma como você age. Você sempre pensou e agiu por impulso. No que estava pensando quando você decidiu aceitar essa luta? Você pretendia voltar vivo dessa luta?

Outras vozes foram tomando forma ao redor de Cal, confuso. Ele estava aparentemente sendo torturado por essas vozes, criticando as decisões que ele havia tomado para essa batalha.

E então, uma outra voz, uma que ele não precisava nem pensar para reconhecer, interferiu.

- Eu pensei que você fosse me proteger.

Cal finalmente conseguiu se mexer. Se via de pé, diante da ilusão que tomava a forma da pessoa que ele mais se esforçou para proteger nos últimos dois anos. A forma de Irma Aloisius.

- Você espera mesmo que eu siga em frente sem você? Você espera que eu seja capaz de aceitar a sua morte, Cal? Me responda, pra que eu acompanhei você pelos últimos dois anos??

Os punhos de Cal fecharam. Seu olhar se afiou. Ele não sabia onde estava, mas pouco a pouco estava começando a juntar as peças. - Vocês todos são reflexos da minha consciência. Dos meus atos...

Ele hesitou por alguns segundos antes de prosseguir. - ...Dos meus erros.

- E você acredita que errou ao aceitar enfrentar seu inimigo?

A voz não vinha de Irma, ou de uma pessoa que ele conhecesse dessa vez. Cal identificou a fonte dessa voz; ele se virou para ver quem era.

Ele já a havia visto antes. Foi quando ele despertou em Regenschrim, quando seu clã havia vindo resgatá-lo. Era ela que havia tido contato com ele, trazendo-o de volta de um mundo de sonhos, para ser trazido à verdade horrível ao qual a Corporação Rekenber estava tentando submeter ele. Aquela Paladina estava finalmente diante dele, de uma forma que ele pudesse claramente reconhecer.

Cabelos louros, brilhantes, seu olhar trazia a ele a sensação de que ela esteve por mais vezes morta do que viva. Cal, porém, ainda não havia conseguido as respostas que queria. - Quem é você, afinal de contas? O que eu tenho de tão especial pra você?

- Você talvez tenha ouvido falar de mim. - Respondeu a Paladina. - Como membra do grupo responsável pela morte de seus pais.

Cal finalmente havia ligado ditas peças. Ele já ouviu falar dela. Por pouco ele não teve a chance de vê-la viva em 1008, durante o Dämmerung. Cal sabia perfeitamente quem era aquela pessoa, mas não queria pronunciar seu nome.

- O que me torna especial pra você a ponto de me receber na porta do Valhalla? - Perguntou Cal.

- Você não está no mundo dos mortos ainda, Cal. - Respondeu a Paladina. - Este é o Nexo, um lugar entre a vida e a morte. Pessoas não acessam esse lugar a menos que estejam prestes a morrer, e suas visitas são muito breves... A menos que alguém como eu possa prolongar.

Cal certamente se lembrava de ter sido recentemente empalado pela espada negra de Omni Ferus e estar praticamente morto. Como ele ainda não estava morto, porém, era algo além de sua própria concepção.

- Sua determinação me lembra a dele. Mas seu caminho está prestes a se tornar completamente oposto ao dele. - Disse a Paladina, de forma críptica.

- ...Ele? - Cal estava curioso.

- Belmont. - Ela respondeu. - Eu já o enfrentei pessoalmente. Ele também me mudou completamente.

- Jô Mungandr. De todas as pessoas, a ex-membra da Ruína veio me pegar na hora da minha morte. - Cal lembrava da história que Leafar contou a ele, sobre sua luta contra a Paladina em 1007. - Mas porquê eu? O que faz de mim uma pessoa interessante a você?

- Eu fui encarregada por uma pessoa de me certificar de que você se mantenha vivo. - Disse ela. - Agnus Rasen, mais especificamente.

Cal ficou paralisado ao ouvir o nome de seu pai. Tentou esboçar alguma reação, mas não conseguiu. O excesso de informação parecia ser demais para ele. - Isso... Mas como?

- Eu sou encarregada de proteger você do outro lado. O que significa que eu também estou encarregada de trazer você de volta de sua situação. - Respondeu a Paladina.

- ...Eu pensei que você tinha dito que eu estava, sabe, MORRENDO. - Respondeu Cal.

- Sua hora ainda não chegou, Cal. Você ainda precisa evoluir e encontrar seu destino. - Jô mantinha a mesma expressão séria, sem demonstrar nada além enquanto conversava com o impressionado Cal. - Se você passar pelo final desse confronto, tudo será mais difícil para você depois. Você poderia obviamente desistir... Mas já sabemos que você não está disposto a deixar algumas pessoas para trás.

- Irma. - Respondeu Cal.

- Freya. - Repeliu Jô, para a surpresa do Cavaleiro. Cal iria tentar responder, mas aquela resposta perfurou sua própria lógica. - O destino dela causará o seu. O que fará com isso, ninguém sabe. Para seu pai, o resultado final é a única coisa que importa. Ele certamente está interessado em saber que Cal Rasen sairá dos eventos que se seguirão.

- Isso não faz sentido. Eu mal a conheço direito. - Reagiu Cal, sério.

- E já a trata com a mesma importância que a Irma. - Respondeu Jô, ainda mantendo o tom calmo.

Os dois ficaram em silêncio por um momento. Cal estava confuso com tudo o que estava ouvindo, com a sensação de que várias coisas ruins estavam prestes a acontecer.

No entanto, isso o colocava de volta à situação em que ele estava. Seu corpo físico estava no chão, com um grande rombo em seu torso causado por uma enorme espada de cristal negro. E seu nêmesis estava pronto para aplicar o golpe final. Mesmo se algum milagre o levantasse dali, Cal não tinha condições de vencer Omni Ferus.

- Você não é mais o garotinho que planejava ser um herói. - Disse a Paladina. - Você é um homem lutando para descobrir seu destino. E sua presente luta pode ser vencida. Por um preço.

- De que preço estamos falando? - Cal indagou à Paladina.

- Nada que você já não pretendesse fazer. O que eu vou fazer vai apenas acelerar o processo todo. - E assim que a Paladina estendeu sua mão, a aura verde de Cal começou a fluir para fora de seu corpo.

Cal estava por alguma razão completamente ciente do que estava acontecendo. - ...Você vai me reviver?

- Não. Você vai transcender. - Respondeu Jô, conforme a mana de Cal explodia para fora de seu corpo e ele sentia sua consciência sendo puxada de volta ao mundo real. - Seu pai confia em você, Cal. Você pode criar seu próprio futuro. Por um tempo vai se esquecer disso... Mas eu sei que você vai encontrar o caminho de volta.

- Toda essa fé numa pessoa que você mal conhece. - Disse Cal enquanto ainda podia ouvir sua própria voz em meio à explosão de sons e luzes.

- Assim como a sua em Freya.

Foi a última coisa que Cal ouviu antes de finalmente deixar o Nexo e sentir a vida voltar completamente a seu corpo.


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- E agora, o momento MAIS ESPERADO da história! O SEU FIM!

O Construto ergueu sua espada, visando decapitar seu oponente com apenas um golpe. Para o Cavaleiro, só lhe restava a morte.

Ou então, muito mais do que isso.

Os olhos de Cal abriram para a surpresa de Ferus, e uma luz vinda do céu acertou violentamente seu corpo.

- O quê!? - A expressão de descrença no rosto de Omni Ferus enquanto luz verde engolia tudo ao seu redor dizia tudo.

E assim que o enorme salão foi engolido pela luz, foi a vez de toda a cidade de Osthreinsburg ser tomada pelo sol verde que se formou no local, substituindo o céu da noite e ameaçando engolir o rio ao norte e o Monte Mjölnir ao leste.



OFF


Okay, já era hora de botar atividade nesse blog.