sexta-feira, 3 de julho de 2015

Viridis: Capítulo Zero - Prólogo: Duas Cores

Era um lugar estranho. Inúmeros flashes, memórias, passavam diante de seus olhos. Mas o mais assustador disso era que parte dessas memórias nem sequer eram dela.

Nesses flashes, ela podia ver dois homens louros, um de cabelos semi-curtos e olhos castanhos, e o outro, com um cabelo mais comprido e escorrido e olhos verdes. As palavras se misturavam, mas ela conseguia entender algumas poucas, justamente as mais frequentes.

Valquíria. Verdade. Escolhas. Muitas vezes essas palavras invadiam os sonhos dela. E assim se seguia até que as próprias palavras se tornavam mais altas que o próprio pensamento dela, forçando-a a acordar assustada no meio da noite.

Mas não nessa noite.

Nessa noite, as palavras cessaram para o mais puro silêncio. Ela se viu num ambiente completamente escuro, um perfeito breu. Ela aparentava estar flutuando de cabeça para baixo em algum espaço perdido, sem saber aonde estava ou o que estava acontecendo.

E então, uma voz quebrou o que aparentava ser a mais completa solidão. - Seu legado. Sua escolha. Seu poder. Você precisa decidir qual caminho vai escolher.

Aquela voz, aparentemente feminina, soava como se viesse de dentro dela. Mas essa voz era diferente demais para ser a própria voz dela.

- ...Quem é... você? - Respondeu, de forma tímida, a menina.

Uma luz surgiu diante daquela adolescente, iluminando seu corpo. Ela aparentava não ter mais do que quinze anos. Poderia parecer perfeitamente normal, com os compridos cabelos castanhos e a estatura mediana. Mas os seus olhos, um azul e outro amarelo, diziam exatamente o contrário.

- ...Você não lembra de quem você é. - Retornou a voz para a menina, que estava começando a ficar confusa com essa cena completamente diferente de seu sonho.

Não era nem sequer a primeira vez que ela tinha esse sonho. Era apenas o sexto mês, parte de uma sequência de sonhos que a estava incomodando, e muito. Mas dessa vez, as cenas eram muito mais claras. Ela podia ver com muito mais clareza as pessoas envolvidas, os dois cavaleiros envolvidos. E agora, a cena adicional com essa estranha "luz" estava ocorrendo.

- Eu sei quem eu sou, meu nome é Selena! - Disse a garota. No entanto a luz permaneceu inerte, como se apenas estivesse olhando inexpressivamente para ela.

- Errado. - Retornou a voz. - Você acredita ser uma humana. Mas seu potencial é muito maior que isso.

E da luz, começou a sair dois pares de asas, de aspecto angelical. E então, o corpo feminino finalmente saiu daquela esfera de luz, para o choque daquela garota. Seus olhos arregalados, assustados, presenciavam aquela Valquíria flutuando em sua direção.

- Você ainda não recuperou a ciência de sua origem, de seus poderes. Mas nós podemos ajudar.

- Não, eu não quero ajuda! - A menina começou a dar passos para trás, cada vez mais assustada. - Eu só quero sair desse sonho, agora!

A Valquíria continuou se aproximando, e isso forçou a garota a começar a correr.

Mas o resultado era muito similar a qualquer momento de sonho em que uma pessoa tenta correr e sente que não consegue sair do lugar. A sensação de que as leis da gravidade, da inércia e da aceleração estavam todas trabalhando contra ela. E antes que ela percebesse, estava novamente diante da Valquíria. E já estava completamente apavorada.

- Aceite a verdade. Você não é humana. - E então a Valquíria voou na direção dela. E tudo ficou escuro.


Naquele momento, ela sentiu que estava para enfartar. Seus olhos abriram subitamente, seu corpo reagiu como se ela tivesse levado um rápido e violento choque. Quando ela acordou, ela achava que ainda estava caindo. E então se levantou, o mais rápido que podia. Demorou alguns segundos até que seu cérebro a dissesse que ela não estava caindo. Ela estava de volta ao mundo real. Estava de volta a seu quarto. Tão escuro quanto a calada daquela noite.

Ela passou alguns minutos naquela posição, sentada. E em choque, com os olhos arregalados, olhando ao redor para ter certeza de que ela estava mesmo no mundo real. Quando as batidas de seu coração finalmente se acalmaram e ela podia sentir que estava respirando normalmente de novo, ela deixou que a lei da gravidade levasse seu corpo de verdade de volta à cama. Ela permaneceu acordada, olhando para o teto.

- Porque esse sonho...? - Ela se perguntava. - Eu só queria saber porque eu estou tendo esses sonhos...

E ainda levaria mais um bom tempo para que ela voltasse a dormir. Na verdade, o dia amanheceu antes mesmo que ela conseguisse dormir. Ela logo seria forçada a levantar e voltar a viver normalmente.

Da mesma forma que estava sendo nos últimos três anos.

 




Viridis

Por Christiano Lopes 

Primeira Introdução: The Greatest Man That Ever Lived (Variations On a Shaker Hymn) - Weezer

Fevereiro de 1013 DG.

Em algum lugar ao pé do Vulcão de Thor.

Uma figura descia a toda velocidade pela encosta da enorme montanha fumegante a oeste de Rachel. À distância, qualquer um que estivesse ali em seu treinamento, usando Magmarings como forma de aprimoramento, veria aquela força da natureza avançando violentamente, levantando poeira e pedras de basalto por sua proximidade. Da pequena nuvem de fumaça, luz verde podia ser vista.

E então, uma pessoa saltou daquela nuvem. Uma armadura de Carnium e cristais verdes, uma espada de estranho cristal verde avançava contra o Magmaring mais próximo. Luz e eletricidade de cor verde saíam daquele corpo como se ele fosse o gerador daquela descarga elétrica. 

E ele era. Em um instante, o homem, louro, de olhos castanhos, brandiu sua espada na direção do Magmaring, que nada podia fazer para reagir ao Espiral violento. Em dois segundos, aquele Poring coberto de magma havia sido triturado pelo ataque daquele Cavaleiro Rúnico.

Ele pousou ao chão, deslizando por mais uns dois metros após acertar seu ataque, com sua enorme espada erguida, segurada apenas por sua mão direita. Ele se virou em direção ao Magmaring morto, enquanto outros vinham em direção aos itens que o primeiro havia deixado. O Cavaleiro Rúnico foi rápido em coletar os itens, e rapidamente notou os outros Magmarings vindo. Sua mão esquerda começou a emitir novamente uma carga elétrica verde, esperando seus novos oponentes se aproximarem. Juntou as duas mãos em sua espada e então a fincou no chão, liberando o que aparentava ser uma grande descarga elétrica.

Não muito havia sobrado dos três Magmarings que tentaram avançar sobre o material deixado pelo primeiro. O Cavaleiro Rúnico estava de cabeça abaixada, olhos fechados, e permaneceu assim por alguns instantes. Ao abrir os olhos, ele retirou a espada do chão e a encaixou de volta nas ranhuras nas costas de seu peitoral. Estava a descer de volta para a base do vulcão quando avistou uma outra pessoa.

- Johan. - Ele disse, reconhecendo o Algoz de cabelos louros espetados e olhos azuis, vestindo um sobretudo preto com ombreiras prateadas cobrindo o traje negro. O Cavaleiro desceu até ele, sabendo que não tinha sido localizado à toa.

- Então foi aí que você se enfiou nos últimos meses, Cal. - Respondeu Johan, caminhando calmamente na direção daquele que recentemente se tornara conhecido como o Blitzritter, o Cavaleiro do Relâmpago vindo de Schwarzvald, o Líder do grupo Thurisaz. - Sabe o quanto eu tive que torrar o saco da sua namorada pra ela me dizer que você tinha enfiado sua bunda de novo nesse vulcão?

- Beleza, só que eu já tinha deixado claro que eu estaria treinando por aqui. - Disse Cal.

O Cavaleiro Rúnico havia passado os últimos meses treinando em Arunafeltz, mas não tinha até então dado qualquer motivo que prestasse pra explicar o porque de fazer isso. Johan aparecer na frente dele foi um evento inesperado.

- Cal, eu espero que você esteja ciente dos eventos recentes. - Disse Johan, tirando algumas fotos de uma mochila e mostrando para Cal. Este começou a folhear as fotos, até finalmente parar na terceira. Johan conseguiu ver seus olhos vidrarem naquele momento. - Isso é o bastante pra você voltar pra Rune-Midgard agora?







Savana de Ida. Alguns dias depois.

Em meio ao semiárido que circulava o lado leste de Rachel, era possível ver um homem caminhando sozinho, com uma mochila nas costas. Vestes azuis, cabelo louro, eram os detalhes que se destacavam nele. Aquele homem já parecia estar viajando sozinho há algum tempo, vagando pelo continente como se procurasse por alguma coisa.

Sua caminhada então parou. Seus olhos verdes se fecharam por um momento, e então se abriram. Sem virar o corpo, ele olhou pelo canto esquerdo. Havia um outro homem parado atrás dele. A não mais que dez metros. Longos cabelos louros, uma brilhante armadura prateada com detalhes dourados e uma notável cicatriz atravessando seu olho direito.

Os olhos verdejantes de ambos colidiram, conforme o homem de azul se virava de lado para encarar aquele que o estava seguindo. Inclinou levemente a cabeça para o lado direito, quase em tom de deboche. Estava sendo seguido por aquele homem de armadura há quinze minutos.

- Posso te ajudar com alguma coisa, fera? - Disse o louro de vestes azuis.

- Hmpf. Justamente como ele disse. As notícias sobre sua morte foram exageradas. - Disse o Cavaleiro Rúnico na armadura. - Leafar Belmont.

- Desculpa, eu acho que você discou o número errado. Leafar Belmont morreu três meses atrás. - Disse o louro de azul, antes de se virar e retomar o caminho que estava seguindo.

Os boatos eram de que, três meses antes, Leafar Belmont, o Dragão Dourado, último líder da Ordem do Dragão, havia morrido salvando o mundo após uma batalha titânica. No entanto, sempre havia um que, tal qual lendas de que Elvis Presley, um Bardo morto há mais de meio século, ainda estava vivo e cuidando de uma fazenda, sempre aparecia um jovem que alegava ter visto tal herói, em vestes azuis, vagando pelo mundo como um mero mochileiro. Aquele Cavaleiro diante do homem de azul poderia muito bem confirmar os boatos, mas não era para isso que ele havia seguido aquela pessoa.

- Então é assim que Leafar Belmont passou a tocar sua própria vida? Como um mochileiro sem rumo? - Retrucou o homem de armadura que começou a andar atrás do homem de azul.

- Cara, seja lá qual é a lenda urbana que os guris maconheiros de Geffen andam te falando sobre Leafar Belmont, elas não são reais, metade dessas lendas resultam de viagens feitas com chá de esporos de cogumelo. - Disse o homem de azul, ainda andando e sem se virar.

O Cavaleiro Rúnico manteve-se sério. Continuou acompanhando "Leafar" até que este finalmente parou e se virou para o Cavaleiro. - É o seguinte, o que eu preciso fazer pra você me deixar em paz?

O Cavaleiro então sacou um conjunto de fotos. Haviam umas seis imagens, que "Leafar" prontamente sacou e começou a olhar. Não era sequer necessário uma troca de palavras para entender o que estava acontecendo. O Cavaleiro estava ali para chamar a atenção dele para aquelas fotos.

E então quando ele olhou a quarta foto, "Leafar" largou todas as outras ao chão e ficou estático, olhando para aquela foto. Uma menina de cabelos castanhos, em uniforme escolar, num ambiente que ele aparentemente reconhecia como a cidade de Geffen em Rune-Midgard. Com um olho azul e outro amarelo. E o rosto dela disparava suas memórias como uma metralhadora.

- Se me permite, eu sou... - O Cavaleiro Rúnico foi prontamente interrompido por Leafar.

- ...Siegfried Schtauffen, líder da Schwarzwind, força-tarefa de elite empregada pelo Governo de Schwarzvald, e nas horas vagas você é amiguinho do Cal. Não precisa me dizer essa parte, eu sei quem você é. Ou qualquer outra figurinha da cavalaria nesse continente se você estiver interessado. - Disse ele, ainda com os olhos vidrados ante a foto. - Agora, vamos à parte interessante, porque isso só pode ser uma piada sua. Vocês estão brincando com Photoshop agora?


A expressão nos olhos de Leafar agora mudaram para um tom furioso. Os dois sabiam com quem a menina da foto se parecia. Siegfried localizou ele em Arunafeltz justamente para falar dessa foto. - Não acho que edição de imagem seja o bastante pra gerar esse tipo de detalhe. E diferente de você, eu não sou de fazer brincadeiras.

Leafar virou seus olhos para Siegfried, o encarando e esperando que aquilo não passasse de uma piada sem graça. Mas o Cavaleiro manteve o tom sério em seus olhos verdes. - Essas fotos são da semana passada em Geffen. Seu amigo Cal ficou sabendo e me pediu para achar você. Não foi difícil, com todos esses moleques e adultos falando que viram heróis lendários mortos por aí. Eu só precisei seguir o rastro mais fresco.

Isso não mudou o olhar de Leafar. Ele não estava surpreso pela facilidade com que Siegfried o rastreou, muito menos pela abordagem. Não importava mais naquele momento. Naquele momento, ele manteve os olhos fixos naquela menina. Mesmo o penteado era vagamente similar. Uma menina de 14 anos. Não era muito mais jovem do que "ela" no seu último ano de vida.

- Porque ela parece com a Freya? - Leafar finalmente teve a coragem de soltar "o nome", conforme indagava Siegfried. - Qual é o significado disso? Que tipo de piada de mau gosto é essa?

- Eu acredito que seria mais fácil você ter essa resposta ao procurar por ela. - Foi a única resposta que Siegfried tinha a dar. E não era como se Leafar esperasse por uma resposta diferente.

Talvez Siegfried estivesse certo. Talvez fosse a hora de ele voltar a Rune-Midgard, ver o que realmente estava acontecendo. Cal não o abordaria por qualquer motivo aleatório, muito menos mandaria alguém pra encontrar ele se não fosse algo de seu extremo interesse.

Com isso em mente, ele finalmente deu um passo em direção ao Cavaleiro Rúnico.

- Me leve até ela. - Disse ele, determinado.

OFF



Pois bem. Ao final de cada capítulo, eu estarei falando do que foi escrito e postado aqui, pro interesse de quem leu.

Há muito tempo eu estava com esse plano de iniciar o Projeto Eir. Basicamente, essa é a segunda chance de Leafar Belmont, após o desastre que lhe ocorreu em Midgard Legends. Esse capítulo é apenas a introdução, o prólogo, para a fic que eu estou colocando em trabalho aqui. A partir do próximo capítulo, começa o ritmo.


Sobre essa intro, eu originalmente estava pensando em criar uma montagem de cenas que iriam rolar ao som da música do Weezer que eu coloquei aí pra ser a intro. Não apenas com Cal e Leafar, mas com basicamente todos os personagens importantes.

Sobre dar uma introdução apropriada dos personagens aos novatos, eu tenho que ver como fazer uma ficha nesse blog que seja tão boa como a que eu tinha no NAWS. Realmente, não dá pra simplesmente socar uma biografia inteira aqui.