sábado, 17 de outubro de 2015

Equilátero: Capítulo 7: Superpoder

Equilátero: Redenção de Cal Rasen


Capítulo 7: Superpoder


Casa de Cal, Leste de Izlude.

Elsa apenas ficava olhando para a garota deprimida diante da janela em direção ao Mjolnir. Parada, imóvel. Irma não saía de lá desde que chegou de Prontera. A Alice sabia que as coisas não podiam estar certas com a garota. Desde que ela havia chegado em casa, ela só fazia chorar e olhar naquela direção. Mas agora, Irma estava estranhamente quieta.

- Irma... Você está bem? - Perguntou Elsa.

A maga não reagiu. Mantinha os olhos vidrados em direção às montanhas sem esboçar reação nenhuma.

- Cal vai ficar bem. Eu confio nele. Você não? - Elsa tentou animar a garota, mas ela continuou imóvel como uma pedra.

Ela estava inerte. Quase como se não houvesse mais vida em seu corpo. Ela só iria demonstrar algum mínimo de resposta física a algo de fora se esse algo tivesse relação com Cal. Zy já havia notado isso no tempo que passou com ela; a garota era extremamente dependente de Cal. A separação forçada pelo coma do Cavaleiro não mudou muito disso, uma vez que Irma havia começado a treinar para se virar por conta própria.

Irma só viria a demonstrar algum movimento ao finalmente notar algo diferente no ar. Ela agora sentia a mana de Cal enfraquecer, enquanto a de Ferus aumentava ainda mais.

E então, uma sensação fria tomou seu corpo como por assalto. Ela levantou, com o corpo altamente trêmulo. Pronunciou algo que Elsa não conseguiu ouvir, mesmo com os sensores auditivos no máximo. E então o impulso mais violento a fez saltar pela janela de casa, em direção à rua, pousando em pé. Irma começou a correr com toda a força que suas pernas possuíam, em direção à saída de Izlude.

Foi o bastante para que Elsa ficasse apavorada e confusa. E então, ela pensou que a única coisa que ela podia fazer era avisar Johan e Zy, naquele momento parados no Café Delight, quase do outro lado da rua onde a casa de Cal ficava.






Osthreinsburg, Capela destruída.


A luta entre Cal e Ferus estava finalmente chegando ao ápice. O ser sinistro estava demonstrando mais força do que antes, com golpes cada vez mais ferozes. Enquanto o Cavaleiro estava finalmente notando que marcas brilhantes surgiam pelo corpo negro de seu clone.

- Esse poder, Cal. Esse é o poder que SUA FAMÍLIA concedeu à MINHA EXISTÊNCIA! Pode sentir isso, Cal? Pode sentir o poder que vai ENCERRAR SUA VIDA??
Ferus, que estava chocando sua espada com a de Cal, liberou então uma poderosa energia dourada, junto ao Impacto de Tyr, que mandou seu adversário voando até o pilar no canto.

Era notável que o Cavaleiro estava com problemas. Sua armadura, mesmo resistindo a trancos semelhantes, não era indestrutível e já começava a apresentar rachaduras, sinalizando que os danos estavam começando a exceder a resistência da mesma. 

O predador, caminhando na direção da vítima, o olhou, mas não com seu tom costumeiro de fúria. Para o Construto, era finalmente a chance de entender o quão diferentes os dois eram.

- Sua resistência. Sua persistência. Eu não consigo pensar em nada mais além do quão interessante você é, pelo jeito que você é. De todas as pessoas que eu já matei, que eu já enfrentei, você é a mais teimosa, a mais persistente! QUAL É O SENTIDO DISSO?

Cal se levantava para continuar lutando. Ele entendia as palavras de Ferus.

- E você? Qual é o seu problema com esse mundo? O que faz você querer tanto destruir esse mundo?

Ferus começou a rir. O questionamento de Cal ao propósito dele parecia totalmente alienígena. - Você é uma pessoa muito engraçada.

E então seus olhos escureceram como se estivessem apagados. Seu corpo começou a brilhar e seu cabelo branco assumiu um intenso brilho dourado, assim como os riscos no rosto. Uma marca na forma de uma ave surgiu em seu peito. Sua voz, conforme seu discurso era pronunciado, se tornou tenebrosa.

- Este mundo que você defende é um lugar podre. Este lugar cobra TUDO de você, ele TOMA TUDO de você. Não importa quanto você se esforçe, não importa o quanto de si você entregue a este mundo, não importa se você quer apenas ter uma vida tranquila ao lado das pessoas que ama, VOCÊ PERDERÁ TUDO! Entende a desgraça disso, Cal? A desgraça de ser TOTALMENTE IMPOTENTE enquanto O SEU MUNDO DESABA?

Ferus apontou sua espada para o cavaleiro e o mesmo correu na direção do Construto, pegando sua espada no caminho. Os dois chocaram suas armas e estavam forçando com tudo. A aura de Cal brilhava como nunca, mas ainda assim aparentava não ser o bastante para conseguir igualar o tamanho poder que fluía do corpo de seu adversário. E o discurso de Ferus continuava com toda a fúria apresentada nele.

- Seus esforços, suas crenças, SUA ALMA, NADA DISSO IMPORTA PRA ESTE MUNDO DOENTE! NÓS NUNCA SEREMOS FELIZES, CAL! NÓS NUNCA TEREMOS AQUILO QUE MAIS QUEREMOS! - Os olhos de Ferus então focaram nos de Cal. - E você sabe qual é a parte engraçada disso tudo?

Naquele momento, os olhos de ambos se travaram um no outro. O sorriso no rosto de Ferus alargava conforme seu discurso prosseguia.

- Só existe um abismo no final do caminho. Com nós dois, um em cada beirada. Esperando. Aguardando pelo momento em que O PRIMEIRO IRÁ DECIDIR POR PULAR PARA A MORTE!

Foi um momento que durou para sempre, mas ao menos tempo, não era menos do que dois segundos. Dois segundos que culminaram na aura de Cal explodindo. Seus olhos furiosos focando Ferus, o sorriso na boca daquele demônio que ele estava tão determinado a matar. E o outro só conseguia esboçar uma reação.

- Sim... Essa expressão, ESSE PODER. O MESMO PODER QUE VOCÊ DEMONSTROU NA TORRE DA LEGIÃO! A MESMA AUSÊNCIA DE ALMA, ERA ISSO QUE EU QUERIA!!!

Uma gigantesca luz verde explodiu dentro da capela. Mas não a mesma luz verde que o cavaleiro estava acostumado a emanar, era um brilho mais escuro, quase uma luz negra. Por um momento, aquela luz assumiu o tom mais escuro e logo depois ela se tornou a luz mais clara possível.

Osthreinsburg foi engolida por luz verde naquele momento.





Siegfried olhava calmamente do Monte Mjolnir para a luz verde que iluminava a escuridão do entardecer chuvoso. Osthreinsburg estava sendo iluminada por aquele combate.


- Então... Este é o clímax... - Dizia Siegfried, como se estivesse prevendo como seria aquele combate todo. - Lute, Cal. Com todas as suas forças.

Hilde apenas olhava para Siegfried, apreensiva. Ao mesmo tempo em que podia sentir a energia vindo do local, a onda de choque na forma da mana de dois guerreiros extremamente poderosos.





Durante aquele minuto, Cal havia se soltado da colisão de espadas e avançado na mais poderosa Lâmina Trovão que poderia disparar. Mas algo inesperado aconteceu e então a luz se dissipou. Uma grande cratera havia ficado onde a explosão tinha tido seu lugar. 

Era possível ver a mana fluindo em ondas de choque violentamente pelo local, como se uma reação nuclear tivesse sido disparada. Foi quando o Cavaleiro apareceu, sendo segurado pelo pescoço por Ferus. Cal, inexplicavelmente, sentia algo dentro de si ser drenado. Podia ver seu inimigo inflando o peito e puxando todo o ar que conseguia. Em pouco tempo seu corpo perdeu toda a energia que tinha.

O clone havia conseguido engolir a massa de luz que estava presa em seu peito. Tinha acabado de absorver a energia do cavaleiro, a mesma que havia passado de gerações em gerações até chegar ao seu atual dono. Ferus sorriu satisfeito, conforme seu cabelo começava a brilhar num branco luminoso prestes a cegar.

- Impossível... Essa habilidade... A mesma do Covee... - Dizia Cal, tentando se soltar da mão esquerda do Construto. Ele havia reconhecido a habilidade de John Covee de drenar energia das pessoas, mas Ferus havia modificado essa habilidade para um propósito diferente. Ele estava usando essa habilidade para drenar a mana de Cal para si.

- Sim, eu finalmente consegui. EU TENHO O SEU PODER! E TUDO GRAÇAS AO RETARDADO QUE SALVOU A VIDA DE SUA IRMAZINHA!!! - O sorriso de Ferus de orelha a orelha não poderia ser o bastante para descrever a emoção que ele sentia. Para o Construto, aquilo era quase uma masturbação.

- Seu... Desgraçado... - Cal mal tinha forças para reagir a essa altura do campeonato. - Então foi isso que você fez com o meu irmão...

- SIM, AQUELE PEDAÇO INÚTIL, AQUELE SIMULACRO QUE FINGIA SER SEU IRMÃO! UMA CÓPIA DE UM PRA UM DOS PODERES DELE, E EU ABSORVI COMO SE FOSSE O ARTIGO ORIGINAL!

A mente de Cal parou ali, naquela resposta. Simulacro? Uma "cópia pirata" de seu irmão? Merjon ainda estaria vivo? Se sim, quem era aquela pessoa que Cal encarou dois anos antes no Planalto de El Mes? No entanto, aquilo ali poderia nem importar mais. Ferus agora tinha o equivalente a toda a geração atual de sua família em poder. E estava prestes a dar uma demonstração em primeira mão desse poder a Cal.

O ser, agora aparentemente invencível, saltou sem soltar o pescoço do rival e deu um movimento giratório no ar. Ele arremessou o cavaleiro contra o chão com uma força jamais antes vista.

O tempo pareceu parar para Cal conforme ele era arremessado. Os olhos amarelados daquele monstro eram uma demonstração de sua insanidade e ao mesmo tempo a satisfação de ter conseguido tudo aquilo que sempre quis. E a incredulidade do Cavaleiro fez com que o tempo voltasse a correr com força total. Como se estivesse batendo contra ele. Como se tivesse descido uma montanha em queda livre e acertado o chão com tudo. Porque era exatamente o que Ferus tinha acabado de fazer com ele.

O instante seguinte se resumiu a Cal se chocando contra o chão a uma velocidade na qual seus ossos teriam se espatifado com facilidade, não fosse a armadura que ele estava usando. Sua indumentária, aliás, voava em pedaços pelo ar, conforme rodopiava pelo impacto em direção à próxima colisão com o chão. Ferus havia explodido o equipamento no corpo dele, tamanha a força com que havia arremessado seu inimigo ao chão. E o mesmo homem continuou rolando em altíssima velocidade e colidindo em tudo pelo caminho, enquanto ia contra direção de um pilar.

Naquele momento, Cal sentiu como se suas costas estivessem prestes a se estilhaçar pela violência em que foi arremessado. Ele não conseguia reagir e seu corpo, com a velocidade de um meteoro, derrubou o pilar como uma árvore acertada por uma rocha iria ao chão.

O prazer de Ferus a essa altura do campeonato era comparável ao de um orgasmo. Seu corpo tremia com a excitação causada pelo poder supremo em suas mãos. E ele ainda queria sentir mais. Ou pelo menos terminar de quebrar seu oponente, já praticamente arrebentado por seu último movimento.

Ferus então tomou sua decisão. O construto pegou sua espada e simplesmente caminhou em direção ao centro do caos que havia causado com seu golpe.

Apesar da força violentíssima, o Cavaleiro se levantava, mesmo com boa parte do equipamento caindo aos pedaços. As costelas quebradas provocaram uma dor lancinante por todo o corpo. Cal fazia toda a força que podia para conseguir apenas ficar de pé.

Porém, antes de poder reagir, sentiu um forte empurrão para trás, lhe deixando completamente em postura ereta. Os olhos arregalaram, ao passo que ele via o sorriso maníaco de Omni Ferus. Sangue voou de sua boca conforme ele tossia. Ao olhar para baixo, havia finalmente percebido que seu inimigo havia atravessado ele com força total, usando a espada de ônix.

- N.. Não... - Sangue vertia de sua boca enquanto o grito causado por sua derrota entalava completamente em sua garganta.

- Sim... SIM... SIM! - O "orgasmo" de Ferus estava finalmente completo. A sensação de vitória, de conquista, de realização. Seus sonhos estavam finalmente realizados. E como um toque final, Ferus chutou o peito do Cavaleiro com tudo, ao passo em que puxava a espada de volta.

Cal caiu inerte ao chão, incapaz de se mexer, com um enorme buraco em seu peito. E a imensa dor da derrota, muito superior a física, tomava-o por completo. Toda força que lhe restava era apenas para observar Ferus caminhava ao seu lado. Cal havia fracassado. Estava morrendo.

- E agora, o momento MAIS ESPERADO da história! O SEU FIM!

O Construto ergueu sua espada, visando decapitar seu oponente com apenas um golpe. Para o Cavaleiro, só lhe restava a morte.


OFF


Uma coisa que eu gostei de fazer ao reescrever esse capítulo foi remover completamente uma cena, em troca de expandir imensamente as cenas na batalha entra Cal e Ferus. Usei essa expansão para poder ampliar um pouco a lore, criar coisas nas quais eu não tinha pensado originalmente, criando brechas  pra novos arcos.

Outra coisa é a cena que eu removi: além de envolver uma pessoa com quem eu não possuo mais amizade, a cena era totalmente irrelevante. Eu pensei em criar uma cena pra substituir, mas quando chegou a hora do vamos ver, me veio a epifania de que a melhor ideia era remover completamente a cena, como se ela jamais tivesse ocorrido. Simples assim.

Não sei o quão mais trabalhoso vai ser reescrever o oitavo capítulo. Vai ter uma cena que eu vou ter que fazer do zero. Mas eu sei que reescrever o sétimo acabou me dando elementos que eu certamente vou usar em Escaleno.

No fim das contas, Ferus previu mesmo que Cal iria acabar se afundando em desgraça. Ou ao menos em torno de uma.

Viridis: Capítulo 2: Primeiro Contato

- Como nenhum de nós viu isso?

Era Leafar questionando Cal conforme a conversa andava. Alguns minutos de conversa, e os dois tinham discutido sobre forçar o Dragão a retornar a Rune-Midgard, as circunstâncias de tais eventos, e eventualmente chegaram no assunto principal: a menina de cabelos castanhos.

- Cal, como você tem certeza de que ela pode ser, você sabe... como a Freya? - Indagou Leafar.

- Só sei o que o Johan sabe. - Respondeu o Blitzriter. - E o que ele sabe é que uma menina com aparência quase igual à da Freya está por aí tem uns três anos, numa escola cara de Geffen. Ela foi encontrada sozinha, não tinha família, o diretor da escola a acolheu. Se pararmos pra pensar...

- ...Foram as mesmas condições nas quais os Cultistas de Freya encontraram a nossa Freya. - Completou Leafar. - Ainda não explica o que faz vocês acharem que o caso dessa menina é o mesmo. Já ouviu falar do ditado dos sete sósias?

- Calma que tem a outra parte da história que o Johan me mandou. - Disse Cal, esticando os braços ao alto conforme se espreguiçava. - Essa é a vantagem de ter um membro da Ordem dos Assassinos como amigo, eles literalmente espionam as pessoas. E a garota tem comentado um bocado sobre sonhos estranhos com Valquírias... E dois Cavaleiros.

Os olhos de Leafar congelaram em Cal por um momento, então ele tornou a pegar as fotos da garota que estavam sobre a mesa. - Isso é loucura.

- Tão louco quanto enfrentar uma Valquíria porque você estava marcado pra morrer por uma profecia de Odin? Ou enfrentar uma versão entupida de steroids mágicos de seu próprio pai tentando se tornar o novo Demiurge? Ou melhor ainda, que tal falarmos dos eventos de três meses atrás--

- Não vamos conversar sobre isso. - Leafar interrompeu Cal prontamente, dando um olhar severo.

- O que eu estou dizendo - Resumiu Cal, sem cerimônia - é que isso é algo que talvez valha a pena ser visto. Qual é, vai me dizer que não está sequer cogitando a possibilidade dessa ser sua segunda chance?

- Não é assim que funciona, Cal. - Respondeu o louro. - Eu não quero uma substituta pra Freya.

- Não estamos falando de substituir pessoas. Estamos falando de redimir seus próprios erros.

Houve um silêncio tenso entre os dois naquele momento. Os dois se encararam por um momento. O caso de Freya Belmont sempre foi um assunto bastante delicado para Leafar e para Cal. Especialmente considerando o fato de que a morte da menina, dois anos antes, disparou duas lutas entre os dois, meses depois. Era um evento ainda fresco na memória dos dois, mas não o bastante para afetar a amizade que tinha começado a se formar a partir da segunda luta.

No fim das contas, Cal e Leafar haviam começado uma amizade a partir do único sentimento que os dois tinham em comum no momento: a dor pela perda de Freya. Cal acabou eventualmente conhecendo os demônios de Leafar, enquanto este viu Cal tendo que lidar com seus próprios demônios.

- Isso não é como você tentando consertar sua relação com a Irma ou se livrar dos antidepressivos. - Disse Leafar, se referindo a dois problemas com o qual Cal lidou no ano anterior. - É muito mais complicado que isso e você sabe disso. O que fizermos ali não vai trazer ela de volta.

- Mas vai impedir que uma outra versão dela surja. - A resposta de Cal foi o bastante pra convencer Leafar. - Você tem razão, isso não vai trazer a Freya de volta. Tampouco vai fazer você se sentir menos culpado pelo que aconteceu com ela. Mas é graças a essa merda toda que nós sabemos exatamente o que fazer com o caso seguinte: nós podemos tirar ela do alcance de quem pode ferir ou usar ela. E honestamente, você sabe que eu quero muito dar esse gosto amargo pra Niren.

Leafar permaneceu calado por mais um momento. Tornou a olhar para as fotos da menina, em especial uma em que ela estava com uma garota ruiva, de cabelos curtos, usando o mesmo uniforme de escola. - Não sei ainda se eu vou topar essa parada. Mas eu estou interessado em ver essa garota com meus próprios olhos.

A resposta de Leafar deixou um sorriso tranquilo em Cal. - Bom saber disso. 'Bora pra Geffen então?

Leafar acenou positivamente com a cabeça, guardando as fotos no bolso de sua jaqueta. Pegou os óculos azuis que havia deixado sobre a mesinha da sala de estar, e os dois finalmente se dirigiam para fora da sala.

A rota mais rápida para Geffen, para Cal, era usar a ajuda da Kafra que trabalhava na base, Alma, que não por coincidência, Leafar também já conhecia, do encontro com Cal em Moscóvia anos antes. Cal contaria com a ajuda dela para cortar caminho e teleportar direto para Geffen com Leafar.

Pelo caminho, Leafar parou por um momento, olhando para uma placa cheia de cartazes pendurados com tachinhas.

- Sabe, Cal, mais de um ano que eu conheço esse lugar e eu nunca realmente prestei atenção no que o seu clã faz. - Disse Leafar, se aproximando da placa e olhando para a imagem de um grande monstro roxo de quatro patas, com aparência similar ao que poderia ser descrito como a mistura de um touro com um leão. - Oficialmente vocês da Thurisaz são a contra-proposta tecnológica da Rekenber, certo? Mas eu fico olhando pra essa placa cheia de pedidos bizarros e não consigo deixar de ver similaridades com o que o Grupo Eden faz. Então... O que seu clã faz mesmo?

Cal deu outro sorriso confiante e se aproximou da placa, prestando atenção no cartaz de dito monstro roxo. Era conhecido como Behemoth, e ele estava causando problemas nos arredores de Geffen. Normalmente ele ficava na área frequentada pelos Grand Orcs, bem a oeste da cidade, mas desde que a área foi fechada após o Voluspá e a Renovação, o monstro deixou de ter medo até dos Orcs que viviam no local e passou a atacar pessoas andando pelas proximidades de Geffen e Glast Heim, cada vez mais perto da Cidade da Magia. Isso fez com que um membro da Guilda dos Magos postasse essa petição para que alguém trouxesse um fim à ameaça.

- O que fazemos - Cal dizia, pegando o papel com a petição do Behemoth - é justamente o que o Grupo Eden não tem a capacidade pra fazer.





Introdução normal


Viridis

Capítulo 2: Primeiro Contato


Academia Rodworth, na frente do portão, 12:41.

O tempo parecia andar muito lentamente para Selena. Tão lento quanto o deslocamento dos continentes, se ela pudesse naquele momento dar uma descrição para o frio na barriga que ela estava sentindo com relação a isso. Era a ansiedade de não saber o que iria acontecer em seguida, porque ela havia acabado de comprar uma briga com Felicia Hardy, basicamente a garota mais agressiva do colégio.

Mia apenas olhava para Selena, apreensiva. Normalmente era ela quem tirava a garota de olhos bicolores de encrenca, mas Selena havia insistido para fazer as coisas sozinha dessa vez. Lutar sozinha.

O problema era que Selena não sabia lutar sozinha. Ou sequer sabia lutar. Ela não levava o menor jeito para a coisa. E agora Mia podia se imaginar carregando Selena para o hospital, depois da garota levar uma surra pesada de Felicia. E como se não fosse o bastante, havia uma plateia para assistir o evento, uma vez que poucos alunos podiam espalhar o anúncio de uma briga de garotas como um vírus tomando um computador.

Se já não havia silêncio naquele momento, o barulho apenas aumentou quando dita garota finalmente chegou ao local indicado. Olhos verdes, cabelos louros, quase prateados. O físico era robusto, mas não o bastante para que ela fosse musculosa ou gorda. Felicia estava finalmente no recinto, e Selena não tinha a menor ideia do que fazer para se livrar dessa situação.

- Espero que já tenha reservado sua vaga num quarto de hospital para a próxima semana, Selena. - Disse Felicia. - Porque aqui, fora do colégio, eu posso fazer o que eu quiser com você.

Não houve reação da menina de cabelos castanhos. Ela estava paralisada naquele momento, muito provavelmente por medo. Felicia prosseguiu. - Que ótimo, já podemos começar.

E a loura avançou. E Selena ainda parecia parada no tempo. Felicia mandou um cruzado de esquerda, mas por algum motivo, Selena sentiu seu corpo se atirando para a esquerda, como se outra coisa a comandasse a se esquivar. Apenas quando sua oponente emendou o primeiro soco com um segundo aplicado com sucesso contra o estômago de Selena, foi que esta finalmente saiu do transe.

Os olhos de Selena arregalaram conforme ela sentia o golpe acertar o estômago e reverberar pelo resto do corpo, enquanto Felicia levantou um sorriso sinistro pelo lado direito da garota. Tirou prontamente o punho do estômago e empurrou a mesma palma contra o peito de sua oponente, forçando-a para trás e esperando que ela caísse sentada no chão. Não foi o que aconteceu, uma vez que Selena por algum motivo retomou o equilíbrio do corpo.

E então, sem muita explicação, o punho direito de Selena fechou, ignorado por uma Felicia já certa de sua vitória.

- Se isso é tudo o que você pode fazer, eu já-- Felicia foi prontamente surpreendida por uma ação rápida de Selena, um soco de direita que ela mesma não sabia como havia desferido. Um soco que conseguiu fazer Felicia dobrar para a sua direita, olhando para o vazio em choque.

Naquele momento, todos ao redor olharam espantados para a cena. Selena havia conseguido acertar um soco, mesmo que torto, em Felicia. Esta ficou parada, naquela posição, por alguns segundos, perplexa pelo evento. E então seus olhos vergaram para a fúria e se voltaram para Selena. A jovem não teve muito tempo para reagir, conforme Felicia finalmente avançava para cima, sem dizer mais nada.

Selena conseguiu esquivar do primeiro soco, mas era lenta demais para fugir de uma sequência, e o punho direito de Felicia encontrou rapidamente com o rosto da garota. Felicia, porém, continuava muda, furiosa, e agarru Selena pela manga esquerda da camisa, puxando-a de volta para sua fúria. Selena sentiu a joelhada forte em seu estômago lhe tirar o ar por alguns segundos, ignorando o fato de que sua oponente agora lhe segurava pela camisa.

Mia cerrou os punhos e ameaçou avançar, mas Selena ainda tinha forças pra falar e freou Mia à distância. - Não entra nessa briga, eu posso fazer isso!

Selena se recobrou e tentou reagir, mas Felicia a empurrou com força, derrubando-a no chão. Não houve tempo para ela se levantar; sua agressora imediatamente desceu em cima dela, puxando-a pela gravata e disparando um forte soco de direita. Selena então sentiu sua consciência deslizar para fora do mundo real por um instante, e então voltar, com a visão borrada, sem saber se era pelas lágrimas ou pelo choque do golpe que havia acabado de levar. Selena ainda conseguia sentir a gravata ainda na mão esquerda de Felicia, indicação de que ela iria continuar batendo nela até que sua consciência se esvaísse.. Ou algo maior e pior acontecesse.

A plateia, que antes estava excitada pela luta que ocorria ali, agora havia ficado completamente quieta, sem saber como reagir ao novo nível de violência. Naquele momento, Mia já não conseguia mais se conter. Ela finalmente deu um passo adiante, se preparando para avançar, quando um homem de jaqueta de couro marrom passou na sua frente, avançando em direção à dupla que lutava.

Selena manteve os olhos fechados, sentindo a dor forte do soco. Esperava pelo próximo, mas ele não veio. Ela se esforçou para abrir os olhos e notar que o braço direito de Felicia agora era segurado pela mão direita de um louro de jaqueta e um olhar perfurante, direcionado à agressora.

- Essa palhaçada acaba aqui. - Disse o homem. - Desmonta da garota, agora.

- Quem você pensa que é para me interromper dessa... - A voz de Felicia morreu ao instante em que ela finalmente encontrou seus olhos com o rosto daquele homem.

- Eu sou o cara pra quem o Rei Ernst reclama quando uma estátua de mármore fica três centímetros fora do lugar. - Disse ele, levantando a cabeça e removendo seu rosto das sombras, revelando os olhos castanhos. - Também conhecido como Cal Rasen, obrigado.

Selena congelou ali. Desde seu estômago, passando por seus pulmões e chegando aos seus olhos, travados naquele que era conhecido como o Blitzritter.

Era justamente uma das pessoas sobre as quais ela e Mia estavam conversando antes de toda a bagunça da briga com Felicia começar.

Mia estava igualmente impotente diante daquela cena. Jamais imaginaria que Cal Rasen fosse maluco o bastante de se aproximar da escola onde estudava. Mia havia dito que estava acompanhando algumas das lutas de Cal, mas a verdade é que a garota havia acabado criando certa fascinação pela determinação do Blitzritter. O suficiente para que ela mesma tivesse resolvido começar a treinar por conta própria.

- Eu sou Felicia Hardy, filha de... - Cal não quis nem saber e interrompeu a garota de novo.

- É o seguinte, Gata Negra, ou você sai de cima dessa garota, ou eu vou ensinar ela a brigar... Usando você como boneco de treinamento. - A voz de Cal, apesar da piada, era séria o bastante. Felicia finalmente soltou a gravata de Selena, cuja cabeça pousou ao chão dos poucos centímetros de altura ao qual havia sido puxada.

Os outros alunos ao redor da cena estavam confusos. No minuto anterior, Selena estava prestes a ser trucidada por uma garota muito mais experiente que ela numa briga. E agora, como que por mágica, Cal Rasen, o Blitzritter, líder da Thurisaz, estava tirando a menina da encrenca quase como se tivesse sido chamado ao local. A verdade era que Cal havia ido até a escola de propósito... Só não esperava ter se deparado com uma briga típica entre bully e garota impopular.

Felicia se afastou de Cal, deixando soltar de canto um "Isso ainda não acabou", que não passou despercebido ao Cavaleiro Rúnico. Cal, porém, apenas ignorou aquilo e procedeu. - O circo acabou, podem ir pra casa.

Os outros alunos, com exceção de Mia, ainda estupefata, se afastaram do local, deixando Selena em paz. Esta, ainda deitada no chão, estava sem reação, olhando fixamente para Cal, que estendeu a mão direita para ajudá-la a se levantar.

- É, o olho esquerdo vai ficar roxo por uns dias, mas você vai ficar bem. - Selena se esforçou para abrir o olho esquerdo naquele momento, enquanto estendia o braço para se levantar com ajuda de Cal.

Naquele momento, o Cavaleiro conseguiu ver claramente a cor dos dois olhos da garota. O olho direito era de um azul real, vivo. O esquerdo, um amarelo vivo, dourado, brilhante. Não ajudava que o penteado da garota, normalmente com duas mechas de cabelo jogadas para a frente em cada lado do rosto, a tornasse quase que um "recolor" de Freya.

E então, ao finalmente conseguir ficar de pé, Selena notou que Cal agora olhava estático para ela. Ela nem se importou em ajeitar o uniforme, reparando apenas no fato de que o Cavaleiro Rúnico a olhava como quem olhava para o fantasma de um ente querido morto. Cal, enquanto isso, estava totalmente fixo no rosto da menina. Até as feições eram ridiculamente similares, ainda que não as mesmas.

A menina estava assustada com o evento, mas por outro motivo. Agora ela estava cara a cara com um dos homens de seu sonho. Não era mais uma imagem borrada, envolta em energia; Cal Rasen estava diante dela, ao vivo, em cores. Não foi difícil o Cavaleiro Rúnico finalmente notar o olhar dela de que ela já o conhecia de algum lugar.

"Então o lance dos sonhos era verdade", ele pensava consigo mesmo. Ele finalmente saiu daquele momento e retomou sua compostura de sempre, dando um sorriso simples. - Você definitivamente precisa aprender a lutar. Não pode simplesmente deixar sua adrenalina fazer o trabalho.

Selena permaneceu quieta, apenas olhando para Cal, que finalmente deu meia volta e saiu andando calmamente, ao qual Mia finalmente reagiu. - Ei, espera. Você sabe alguma coisa sobre Valquírias?

Cal já havia passado pela ruiva quando a pergunta dela o parou. Cal olhou de canto para ela e deu sua resposta. - O que eu sei é que elas não costumam ser boas notícias. Sugiro que não procurem por uma.

Cal retomou seu caminho, enquanto Mia olhava para ele, sem entender a resposta. Ela preferiu não insistir; havia uma outra situação em mãos agora. Ela notou Selena parada, ainda no estado em que havia acabado de sair daquela briga. Mia então caminhou para a amiga. - Vem, vamos cuidar do olho roxo.

Selena saiu daquele transe naquele momento e passou a seguir Mia na direção oposta à da qual Cal estava andando.

Enquanto isso, o Cavaleiro do Relâmpago, já distante das duas, agora estava próximo a um perplexo Leafar. Passou por ele, e parou, costa a costa com o Dragão. - E aí, o que acha?

Os olhos verdes do louro estavam vidrados. Era uma versão pior da reação que Cal teve. Leafar não tinha visto apenas uma cópia de Freya na garota, mesmo à distância; aos olhos dele, era quase como um fantasma dela, em todos os sentidos.

- ...É a própria imagem dela. Cores diferentes, mas eu reconheceria aquele rosto em qualquer canto do planeta. - Os dois permaneceram parados por um instante até que a mente de Leafar começou a gradualmente sair do choque. - Cal. Que merda é aquela?

- Essa merda - Respondeu Cal - muito provavelmente é outra Valquíria vivendo como uma humana. Chame de teoria louca, do que quiser, mas a reação dela a mim foi bem real.

- A essa altura do campeonato, loucura é algo que eu posso chamar de estilo de vida. - Reagiu Leafar, olhando para as duas garotas ao longe, antes de dobrarem a esquina e desaparecerem na cidade.

O dia havia apenas começado para os dois Cavaleiros Rúnicos.



OFF




Demorou um bocado e pelo visto eu vou ter que deixar pro Rafa avaliar um capítulo postado, mas eu já tinha esse aqui armado.

E o Rafa tem me dado mais confiança pra escrever o material baseado no Leafar, e eu dou a sorte de ter amplo conhecimento do trabalho e dos eventos em torno dele.

Uma coisa que eu notei conforme eu relia o que eu escrevi é como eu acabei criando um Cal Rasen bem mais experiente também, um que já sabe melhor o que fazer, mais calmo, menos raivoso. E pensar que eu estou a escrever o terceiro capítulo de Escaleno, relatando justamente um Cal oposto ao que era, mais de um ano antes dos eventos de Viridis.

Enfim...

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Equilátero: Capítulo 6: Cavaleiros do Relâmpago

Equilátero: Redenção de Cal Rasen


Capítulo 6: Cavaleiros do Relâmpago

Osthreinsburg, Capela do castelo, 4:30 da tarde.

Caledonius Rasen finalmente adentrava a capela da cidade amaldiçoada. Era aquele o ponto de encontro que Ferus havia designado para seu grande confronto. Um castelo em uma cidade arruinada na costa norte de Rune-Midgard, de onde dava para ver a vila de Einbech e a cidade poluída de Einbroch, e na distância, a cidade flutuante de Juno no Planalto de El Mes.

No seu caminho, a vida do cavaleiro passou como um filme. O momento em que encontrou com Hanna Hendstron e Alexander Eisenheim II pela primeira vez, resultando em sua aliança com a Organização VII. Seu primeiro confronto com Hrymm, que resultou no surgimento da Ordem do Trovão. Seu tempo na mente de Ferus, durante o período em que esteve prisioneiro como experimento em Lighthalzen, culminando em seu retorno para o primeiro confronto com seu clone.

Então se lembrou de sua caça a Omni Ferus, e logo depois, o retorno do Satã Morroc. Sua memória bateu na sua discussão com Leafar, passou pela batalha de Morroc e então os nove meses onde viajou pelo mundo, até seu confronto com Dimitri, onde liberou Agnea, a técnica que consumiu a mana de seu corpo até que este mal pudesse sustentar sua própria vida. Lembrou-se de seus diversos confrontos desde que saiu do coma, até o ponto em que finalmente havia chegado. Lembrou de todos os amigos que dez e perdeu como líder da Ordem do Trovão, como viajante, como membro da Chama Prateada.

Quando deu por si, já estava na maior sala do castelo em ruínas. Um imenso salão com pilares ao redor, desprovido de teto. A luz do sol, já enfraquecendo pelo passar da tarde, era a única coisa a iluminar o local. Através de uma parede quebrada, era possível ver as ruínas de um castelo que, dez anos atrás, era perfeitamente habitável. Cal então viu diante dele uma pessoa flutuando em cima de um disco de metal. Este ser saltou do transporte, dando um mortal no ar e pousando no chão. Sua pele era negra como carvão e seus cabelos brancos davam a impressão de emitir luz. Ele então se virou, revelando os sanguinários olhos vermelhos.

Estava, finalmente, diante de seu nêmesis para o confronto final.

- Você finalmente apareceu. - Disse Omni Ferus a seu inimigo.

Os dois trocaram olhares por um período de tempo. Cal não podia deixar de reparar na cena que estava presenciando.

- Então... Vai me contar quando o seu advogado te entrega o processo mandado por Vergil Hawkins por copiar o transporte dele? - Perguntou Cal, sarcasticamente.

- Você não cansa mesmo dessa piada toda. Mesmo estando prestes a morrer. - Reagiu Ferus.

- Isso ou eu ainda estou tendo problemas pra processar a lógica desse encontro, bem como dessa demolição toda só por uma noite de sexo. - Cal mantinha o desdém, mesmo ciente do perigo que corria.

Cal reparou na forma como o olhar de Ferus afiou diante do discurso. E prosseguiu, agora em um tom sério. - Você não fez esse espetáculo todo só pra ter um lugar onde enfiar seu pau. Qual é a porcaria da sua fixação em mim, afinal de contas?

- Você é interessante, Cal. - Respondeu Ferus. - De todas as pessoas que eu conheci, você é a única que realmente se atreveu a me conceder... atenção. Não sei se é por sermos quase o mesmo material. Ou se é por alguma coisa mais.

- Não somos o mesmo material. - Retrucou Cal. - Eu definitivamente não me pareço com você em nada.

- Continue negando, Cal, é assim que nós nos aproximamos. - Ferus então deu um sorriso maligno. - É tão engraçado. Você simplesmente teve tudo o que quis. Um clã, amigos, O SANGUE DO MEMBRO DA RUÍNA QUE MATOU NOSSOS PAIS!

- ELES NÃO SÃO SEUS PAIS! - A mana de Cal finalmente acendeu ao ouvir aquela frase de Ferus. - E Hatii II teve o que merecia ao ser selado como um Legionário!

- Então porque NADA DISSO tem relevância pra você nesse momento? - Reagiu Ferus. - É o mesmo efeito que eu sinto quando eu destruo um edifício com pessoas dentro, EU NÃO SINTO NADA!

Agora a troca de olhar entre os dois era feroz. Cal finalmente havia mudado seu humor, e o confronto entre os dois não era mais uma possibilidade, era agora um fato confirmado.

- Nós somos iguais. - Disse Ferus, mantendo o olhar fixo em Cal. - Animais insaciáveis buscando por algo que consiga preencher o vácuo de nossas almas. O vazio dos seus pais. O vazio de Leafar Belmont.

Cal não reagiu enquanto Ferus continuava o discurso. - ...O vazio de Hanna Hendstron.

- Não sobrou nada do velho eu em você, Ferus. - Cal disse num tom que soava como se ele já estivesse pronto para matar seu inimigo.

- Existe uma única coisa, Cal. VOCÊ EXISTE, E ISSO SÓ VAI MUDAR QUANDO EU MATÁ-LO!

Uma energia branca começou a fluir do corpo de Ferus, emanando uma eletricidade da mesma cor muito maior que antes. Cal podia sentir a diferença entre aquela força e a usada nos confrontos anteriores, tanto a caminho da Fenda Dimensional em Dezembro passado quanto na mesma cidade de Osthreinburg meses antes daquele confronto. Ainda assim, ele não se intimidou.

- Eu sabia que chegariamos na parte do filme em que o vilão diz que “só deve haver um”. - Cal finalmente sacou a espada de cristal enquanto Ferus sacava uma espada semelhante, mas feita de um cristal que lembrava ônix. - Eu estou pronto, Ferus, pro que você tiver pra me mostrar!

E finalmente haviam começado a se enfrentar com tudo o que tinham. O cavaleiro iniciava sua Super Lâmina Trovão como o primeiro movimento, avançando contra seu inimigo enquanto acumulava energia e então liberando uma descarga que acendeu a espada de Cristal de Bradium conforme eletricidade emanava da mesma. Ferus, porém, estava se defendendo com o Escudo Refletor, causando danos a Cal no momento em que este acertava seu ataque.

Por conta de possuir o DNA do MVP Doppelganger em seu corpo, Ferus tinha, além dos mesmos dons concedidos ao sangue dos Rasen, a capacidade de imitar qualquer técnica de qualquer classe que conhecesse. Isso, porém, não assustou o Cavaleiro, que tornou a atacar.

Ferus dava risadas conforme defendia os ataques. - E então, o Escolhido de Thor chega a seu fim.

- Você parece extremamente certo de si pra alguém que ainda não está fazendo merda nenhuma. - Reagiu Cal. Os dois trocavam golpes elétricos conforme o combate prosseguia. Mas o cavaleiro já notava a energia crescendo ainda mais e tomou sua iniciativa.

- IRA DE THOR! - Cal colocou sua mão no peito do adversário e disparou seu golpe, causando uma grande descarga elétrica no inimigo. Ferus estava sentindo o ataque, sendo arremessado alguns metros para longe dele, mas ainda conseguiu disparar uma Nevasca contra Cal, que acabaria por sentir o ataque, ficando encasulado em um bloco de gelo. O ser negro conseguiu ganhar distância do Cavaleiro, para então caminhar na direção dele, ainda congelado.

- Eu sempre levo a vantagem inicial. E sabe do que mais, Cal? Eu estou esperando você me mostrar qualquer nova carta que você possua na sua manga. – Se aproximou do rosto de Cal. - Os limites que você precisa ultrapassar pra conseguir me matar, são limites que seu corpo JAMAIS vai conhecer. Aceite, Cal. Acabou.

Os olhos de Cal abriram naquele momento, quando ele liberou sua descarga elétrica.

- EXPLOSÃO DO TROVÃO! - O enclaustro de gelo foi explodido conforme Ferus era arremessado pelo ataque surpresa do rival, que avançou com todo o poder que tinha. Ferus, mesmo surpreendido pelo ataque do Cavaleiro, sacou sua espada e avançou.

Cal podia perceber a energia emanando daquela arma aparentemente composta de Bradium negro. Uma luz negra emanava da espada, assim como do corpo de seu dono. Mas agora, para essa parte do confronto, a aura verde de Cal também emanava com força total. Os dois começaram novamente a trocar golpes.

Primeiro o cavaleiro tentou um Impacto de Tyr, prontamente esquivado por Ferus, que disparou uma Mammonita. Cal defendeu o poderoso golpe com a espada e em seguida disparou a Lâmina Trovão, a qual o outro defendeu, disparando a mesma técnica.

Faíscas voaram de todo lado conforme as espadas elétricas se chocavam. O original e o clone se afastaram, pegaram ar, começaram a correr novamente um na direção do outro, por fim saltando e trocando espadadas em pleno ar. Para aqueles dois, aquilo não era mais uma luta. Era um duelo. Um duelo para decidir quem iria determinar o destino de Midgard, fosse ele bom ou ruim. Era quase como se os dois estivessem lutando para decidir quem levaria Midgard inteira como prêmio.

Um sorriso maligno se espalhava pelo rosto de Ferus conforme o combate continuava. - "Calma, Cal. Você ainda não viu nem metade do meu verdadeiro PODER!!!"






Siegfried olhava calmamente para o céu enquanto passava pelo Monte Mjolnir. O Sol, que já havia desaparecido no horizonte ao oeste, dava lugar aos tons negros ao céu. E naquela direção, ele podia ver o Castelo de Osthreinsburg. Um castelo que, para ele, continha memórias que queriam ser apagadas de sua mente.

Mas ainda assim, ele quis continuar olhando. Era ali que Cal Rasen estava decidindo seu destino contra Omni Ferus. Siegfried então se sentou num tronco próximo de onde estava e ficou ali, olhando naquela direção.

Foi quando Hilde se aproximou, nervosa.

- Sieg, isso não está certo! Do jeito que aquele ser se exibiu em Alberta, é muito óbvio que Cal Rasen irá morrer!! - Exclamou ela.

- Ele não irá morrer. Confie em mim. - Disse Siegfried, absorto naquela vista do castelo em ruínas beirando o rio.

- ...Como pode ter tanta certeza? O que o faz pensar que ele pode sobreviver a um oponente tão poderoso?

O homem então se levantou e foi em direção à Hilde, olhando-a no fundo dos olhos com toda a sua sinceridade. - Eu acredito que ele não vai morrer... Porque eu mesmo não morri.

Ele então se tornou a sentar e simplesmente olhar as ruínas. Hilde podia não perceber, mas na verdade Siegfried estava sentido as manas de Cal e Ferus colidindo com tudo o que podiam, furiosamente, conforme a noite apenas começava...

OFF




Pronto, coloquei o sexto capítulo de Equilátero no ar. Já estava pronto; eu apenas estava esperando completar o capítulo de Escaleno para botar no ar.

Dei uma melhoria pesada nos diálogos entre Cal e Ferus, mas deixei o clima do combate praticamente intacto. Mas acho que deu um bom caldo.

Bem, com isso, vou ver o que faço com o segundo capítulo de Viridis, e então eu retomo pra Escaleno, e então coloco o sétimo de Equilátero no ar.

Aliás, o sétimo vai demandar trabalho também, já que eu vou ter que criar uma nova cena do zero no começo do capítulo.

Acontece.

domingo, 23 de agosto de 2015

Equilátero: Capítulo 5: Omni Ferus

Equilátero: Redenção de Cal Rasen


Capítulo 5: Omni Ferus

O dia amanhecia em Alberta e o comércio acontecia como sempre, enquanto as pessoas andavam pela cidade sem a menor preocupação. Aventureiros pipocavam, alguns querendo acessar os países no continente a leste, outros procurando desafios como a Torre Sem Fim. O dia parecia bastante normal para os comerciantes da cidade.

Foi quando uma sombra pairou sobre a área em que se encontrava a Guilda dos Mercadores. Pouco a pouco, as pessoas começaram a olhar para aquele ser, aparentemente flutuando a vários metros de altura sobre um disco de metal, que bloqueava o Sol acima dos espectadores. Seu olhar sanguinário e seu sorriso incendiário davam a entender que algo muito ruim estava para acontecer.

Foi quando este homem saltou para trás, num backflip, do seu transporte e olhou em direção ao prédio abaixo dele enquanto instantaneamente apontava ambas as mãos para o local.

- Mamãe, o que o homem preto vai fazer? - Perguntou a criança ao lado de sua mãe.

E a aberração disparou uma enorme esfera branca de eletricidade, com tamanha força que o disparo o impulsionou novamente para o alto. O ataque, um imenso Trovão de Júpiter, se abateu sobre a Guilda dos Mercadores, causando uma grande explosão, disparando fumaça e destroços voando para todo lado. Os espectadores foram arremessados pela onda de choque seguinte, tamanha a violência do impacto. O destruidor então, ao som de uma risada maníaca enquanto a poeira dos escombros baixava, bradou:

- Sim. Esse poder... Era justamente esse poder que eu precisava! ESSE PODER SERÁ O FIM DE CAL RASEN!!!

O ser negro era ninguém menos que Omni Ferus, agora usufruindo dos poderes de Merjön Rasen, roubados durante o confronto em El Mes. 

Ferus não conseguia conter sua felicidade, a forte sensação de poder proporcionada por aquela demonstração. Era como se ele estivesse chapado de ácido, ou de alguma droga que o fizesse se sentir como o dono do mundo. E talvez, de certa forma, ele tivesse se tornado o dono do mundo, agora que possuía poderes de mais de um membro da família Rasen. 

Assim, ele sumia nos céus deixando a população de Alberta em pânico, com pessoas desesperadas em busca de sobreviventes naquele pandemônio gerado pelo Construto.




Barracão da Chama Prateada, 26 de Fevereiro de 2011, 9:30 da manhã.


Uma semana havia se passado desde os eventos ocorridos com Valna. Cal mais uma vez olhava do telhado do Barracão para o oceano. Sua mente agora estava cheia de dúvidas. Porque Ferus não apareceu pessoalmente para lidar com ele? Porque ele quis atacar Irma e Zy ao invés de vir diretamente a Cal com o seu aparente novo poder?

- Tem que haver alguma lógica por trás disso, Ferus. O que você está armando? - Se perguntava ele, enquanto Johan aparecia por trás dele, com uma cara de poucos amigos. Cal foi rápido para notar a presença do Mercenário.

- Sabotaram alguma coisa na base da Sigma de novo? - Perguntou Cal ao perceber o humor funesto de Johan.

- Não, começaram a demolir sedes de guildas.

A resposta de Johan deixou Cal confuso. Foi quando Johan tirou o que aparentava ser uma tela de bolso, que Cal reconhecia como um "smartphone", e colocou um vídeo para passar naquela tela.

- Aconteceu essa manhã. Pessoas avistaram o Ferus flutuando sobre a Guilda dos Mercadores... - E então a câmera, aparentemente de um dos espectadores, mostrava Ferus realizando o espetacular salto que resultou na demolição da Guilda dos Mercadores. - ...E ele simplesmente detonou o lugar num único Trovão de Júpiter.

- Meu Deus... - Exclamou Cal, sem saber se demonstrava surpresa ou pavor. - Ele surtou de vez.

- Mais do que surtou. - Continuou Johan, que então abriu novos vídeos para Cal assistir. - Ferus não parou em Alberta. Ele passou por Payon e então Geffen, deixando estragos na Guilda dos Arqueiros e depois a dos Magos.

- Espera, a Keyron deveria estar em Geffen, não tem como o Ferus simplesmente... - Cal foi prontamente interrompido por Johan.

- Ferus simplesmente atacou de surpresa, ninguém viu ele disparar o ataque na torre. Mas ela é boa, se quer saber, os Magos da Guilda estão bem.

- Dá ao menos pra dizer se o Ernst ou seja lá quem diabos tá cuidando de Prontera tomou ciência disso? - Reagiu Cal.

- Na verdade... Já estão cientes. E vários grupos chegaram ao consenso de que você deveria aparecer na assembleia de emergência que está pra acontecer em Prontera. - Respondeu Johan.

Cal manteve o olhar sério focado no vazio por alguns segundos. Embora ele não quisesse presumir nada, ele já tinha certeza do que Ferus realmente queria com aqueles ataques.

Ele queria a cabeça de Cal.




Castelo de Prontera, 1:30 da tarde.

Num imenso salão estava em sessão uma corte. Pessoas de todo o continente estavam reunidas para discutir apenas uma coisa:  Ao longo da manhã, foram destruídas as sedes das guildas dos Mercadores em Alberta, dos Magos em Geffen e dos Arqueiros em Payon.

A população estava extremamente alarmada e sem saber o que fazer, enquanto a Cavalaria de Prontera nunca tinha visto nada parecido e tudo era atribuído a apenas uma pessoa. Um homem de pele preta como um ônix, que muitos reconheciam pela alcunha de Omni Ferus.

Conforme Cal entrava no local, ele via que todas as guildas, com seus representantes máximos, estavam ali reunídos. Os Seis Grandes, inclusive, deram as caras, dada a situação. Seyren apenas notava o Cavaleiro entrando enquanto a discussão prosseguia.

- Isso já chegou ao limite. - Disse o Regente Lans, olhando para os dados enviados pela Organização VII sobre Omni Ferus. - Este ser já tentou me matar, como vocês ainda o deixam vivo?

Do outro lado, um outro grupo estava isolado. Um deles era um Lorde, com uma cicatriz raspando o olho esquerdo, longos cabelos louros e olhos verdes. Siegfried, com seu clã Schwarzwind, observava calmamente o debate ali. Ao seu lado, uma Lady ruiva, de armadura de corpo inteiro, chamou sua atenção:

- Sieg, isso só pode ser loucura! Você mesmo sabe quanto poder aquela besta possui.

- Hilde, isso não é uma situação para a Guarda Continental resolver. É muita estupidez da parte deles ainda não terem percebido isso. - Siegfried então olhou para o Cavaleiro, que havia acabado de chegar. - Mas eu sei de quem essa criatura está atrás. Cal Rasen tem uma chance de acabar com isso. Me pergunto se ele vai querer fazer isso sozinho.

- Não contaria com isso... - Disse Hilde, olhando para o assunto da conversa.

- Apenas assista. - Siegfried mantinha seu olhar calmo pelo local.

Siegfried sabia que a situação era extremamente séria, mas também sabia que Omni Ferus era uma conta exclusivamente daquele outro guerreiro. Ele conhecia Cal bem, de alguns eventos em sua jornada em 1009, tal como outros eventos posteriores.

- Muito bem, vamos simplesmente acionar a Guarda Continental e os melhores guerreiros que cada guilda tiver. É simples assim. - Bravejou Lans, embora seu discurso tenha sido interrompido por Kerd, perto da entrada do hall.

- Ótima ideia, aproveita e deixe que Morroc consiga arrebentar o perímetro mágico que custou sete mil vidas em 1009. - Falou sarcasticamente. - Vocês não tem força para segurar Morroc ali, que dirá lidar com um ser furioso desses!

Em outra parte do hall, um Desordeiro de cabelos azuis também assistia a cena, próximo a uma Lady de cabelos louros.

- Palhaçada. - Disse o Desordeiro. - Eu sei lá quem é o Omni Ferus que eles falam, mas chamar a Guarda Continental pra cima quando eles já sabem quem esse cara quer matar é ridículo. Cal Rasen não veio aqui à toa, eu aposto.

- Espera, Bakhur, você conhece o Cal? - Perguntou a Lady, fitando o Desordeiro.

- A gente teve nossa aventura menos de um ano e meio atrás. Ele foi a Moscóvia atrás do líder de um culto de malucos. - Disse Bakhur, que então passou a olhar para o centro do hall, uma vez que o Cavaleiro ali presente levantou sua voz.

- O lance é que ele quer a mim. - A voz de Cal ecoou pelo hall inteiro. - Kerd está certo, a Guarda Continental mal dá cabo do selo que eles criaram pra manter Morroc nas proximidades da Fenda Dimensional, seus melhores caras realmente não dão cabo do Ferus.

Todas as pessoas que conheciam ou chegaram a conhecer Rasen estavam ali, incluindo ex-membros da Ordem do Trovão e alguns membros da VII. Inúmeras pessoas com quem o Cavaleiro cruzou caminhos ao longo de sua grande estrada e agora lhes davam ouvidos. O general se calou e começou a prestar atenção nele, notando que líderes dos principais grupos também o olhavam.

- Ele foi feito com o meu sangue, lutou com as minhas habilidades e causou caos pelo planeta. Mas sabe quem esteve lá para frear ele em todas as vezes? Eu estive. Tem sido MINHA OBRIGAÇÃO nesses quase dois anos perseguir Ferus até o fim do mundo se eu precisasse. Então, se vão lançar uma ofensiva gigante contra ele, quero ao menos ter o direito de ter minha luta com ele.

- Você sabe exatamente o nível de Ferus agora, Cal? - Era a voz de Eremes Guile, no topo da sala. - Demolir sedes de Guildas em um ataque só não é um feito pra muitos.

- Não interessa! Já era hora de eu acabar com isso e pelo que eu sei ele vai continuar destruindo tudo enquanto não me achar. Ou eu encerro isso hoje, ou mais gente vai morrer nessa cruzada dele. - Foi a resposta de Cal.

O silêncio se abateu pela sala por alguns segundos. Lans podia notar o olhar extremamente determinado daquele homem.

- Eu preciso acabar com isso pessoalmente. É o único jeito. - Continuou Cal.

- Você tem a sua chance. Mas é bom saber que será o responsável, se por acaso conseguir piorar a nossa situação. – Respondeu de volta num tom frio.

Os outros, porém, começavam a olhar o Cavaleiro como se aquela fosse a última chance de vê-lo com vida. Naquele canto, porém, a garota que estava com o Desordeiro de cabelo azul simplesmente não conseguia ficar parada, olhando aquilo.

- Freya, aonde você tá indo? - Indagou Bakhur, mas a menina não se virou para responder, ao invés continuando na direção da saída do castelo. Bakhur também podia ver Cal indo pela mesma saída, um tanto quanto adiante dela. - Mas que maravilha de dia.

Cal deu as costas ao local e se dirigiu à saída do Castelo, deixando as pessoas ali presentes para trás. Ao sair, uma pessoa o parou. - Cal!

Cal se virou naquele momento pra reconhecer a garota de cabelos louros e olhos de cores diferentes correndo em sua direção. Ela parou a um metro do Cavaleiro, quase ofegante. Não demorou cinco segundos pra que ela retomasse o fôlego. - O que você pensa que está fazendo?

- Dando um fim num problema que eu mesmo criei. - Respondeu Cal.
 
Cal e Freya se conheciam de diversos eventos. A menina de quinze anos já havia sido a Papisa de Rachel até que Leafar havia tirado ela de lá, três anos antes. Desde então, ela havia se tornado a protegia de Leafar, tal como Irma era a protegida de Cal. Cal podia sentir essa conexão entre ela e Leafar ao vê-la, especialmente na forma como agora, dois anos depois da morte de Leafar, ela agora seguia o estilo de combate dele, atuando como uma Lady ao invés de uma Suma Sacerdotisa, classe para a qual ela havia sido originalmente treinada.

- Você pode acabar morto! - Exclamou a garota, desesperada.

- É, tem essa possibilidade. - Respondeu Cal, muito para o desgosto de Freya.

- Como pode simplesmente dizer isso como se sua vida não importasse? - Foi a resposta da garota. - Você não parou pra pensar nas pessoas que vai deixar pra trás? Ou por acaso você quer morrer mesmo?

Cal notava a expressão no rosto da garota. Ele sabia porque essa expressão preocupada estava ali. Ele entendia que ela estava falando isso por causa do que aconteceu com Leafar. Era simples assim.

Naquele instante, Cal parou para pensar no que havia atravessado, reparando numa estranha ironia: como sua jornada tinha elementos fortemente similares aos da vida de Leafar. Ambos foram clonados e seus clones enlouqueceram; ambos criaram laços emocionais com uma pessoa desamparada; e agora Cal estava justamente fazendo a mesma coisa que ele fez ao final de sua vida, indo para uma luta de onde ele não tinha certeza se sairia vivo.

- Cal... Você tem alguém por quem lutar? - A pergunta repentina de Freya fez Cal olhar fixamente para ela.

- Engraçado. - Cal olhou para o lado e então de volta para Freya. - De alguma forma, não consigo olhar pra você e não ver a Irma. Há muito em comum entre vocês duas.

Freya lembrava daquele nome. Era a garota com quem Cal estava andando um ano e meio antes, quando os dois se encontraram em Rachel.

- Você me lembra ela na forma como você dependia do Leafar pra se sentir segura. Não sei dizer direito. Penso que você era pro Leafar o que a Irma é pra mim: família. No mais, se queria saber se eu vivo pra proteger alguém, é ela.

Os dois ficaram parados por um minuto ali, sem dizer mais nada. Mesmo que os dois não tivessem uma amizade ativa, Cal conseguia sentir uma espécie de conexão com Freya. Sua experiência com Irma dava a ele a sensação de que ele pudesse entender a garota.

E então, por um momento, Cal lembrou de seu encontro com Leonard, apenas dois meses antes. Uma busca por respostas frustrada pelo próprio Leonard, que dispensou suas questões como se ele tivesse a resposta universal de tudo. Mas se as respostas de Leonard naquele dia eram reais, porque Cal ainda tinha problemas em aceitar a resposta? E ainda assim, ao invés de dizer qualquer coisa, ele permaneceu mudo diante de Freya.

E então o momento foi interrompido. Uma garota de cabelos castanhos passou desesperada pela porta do castelo, correndo até o Cavaleiro o abraçando com força.

- Cal, por favor, não faça isso! Por tudo o que você tem aqui! - Irma chorava desesperada enquanto ele não sabia como responder a aquilo. O que fazer quanto a isso?

Freya via a cena, apenas prestando atenção na situação diante dela. Na resposta que Cal havia dado apenas minutos antes. E então percebeu o quão sozinha se sentia nos últimos dois anos.

- Precisa ser forte, independente do que acontecer. Não poderá lutar pelas pessoas que você gosta se ficar travada com esses pensamentos. Eu vou estar aqui de um jeito ou de outro. Confie em mim. - Disse Cal a Irma. Ele então se voltou para a loura. - E Freya. Se eu por acaso sobreviver a isso tudo. Se tiver algum problema, me procure. Entendido?

- Eu acho que sim... - Respondeu a garota, ainda notando que Irma permanecia praticamente agarrada a Cal.

Ao conseguir fazer com que Irma finalmente lhe soltasse, Cal acenou mais uma vez para as duas e deu meia-volta, e saiu andando em direção ao centro da cidade. Johan chegava ao lado de Irma e via o Cavaleiro partindo em direção à imensidão de Prontera, olhando sempre para o noroeste.

Do lado de Freya, era Bakhur quem aparecia, olhando fixamente para ela. Ela permaneceu calada por um momento, apenas olhando para a garota se apoiando no Mercenário à sua frente, e então finalmente dirigiu a palavra a ele. - ...Você sequer quis falar com ele.

- Não tenho muito o que conversar com ele. - Disse Bakhur. - Mas acho que você tinha o que conversar.

Ela fechou os punhos. Engoliu seco por um momento. Ficou pensando na conversa que tinha acabado de ter com o Cavaleiro. - ...Eu era especial para ele? Para o...?

- Eu não faço a menor ideia. - Respondeu Bakhur num tom sério. Era como se ele tivesse sua própria situação em sua mente naquele momento. Freya notou rapidamente a forma como a mente dele saiu do ar.

- Bakhur, você está bem? - Indagou a garota.

- Vou estar. E eu acho que o Cal também vai estar. Já vi ele lutando, ele é maluco o bastante pra sobreviver ao impossível na minha opinião. - Respondeu, desviando a atenção da menina. Bakhur prontamente se virou, chamando Freya para acompanhá-lo.

Mas conforme os dois saíam andando da área do Castelo de Prontera, ele mesmo não conseguia parar de pensar na situação em que ele tinha finalmente esbarrado no mês anterior. Uma situação que ele não estava disposto a contar para Freya.

Enquanto isso, Cal agora seguia para o portão oeste da cidade, caminhando para o que poderia ser sua batalha final com Omni Ferus. E ele parecia bem decidido sobre o assunto.

- Ferus, me aguarde. Vamos acabar com isso logo.

OFF



Bem, demorou, mas eu finalmente consegui engrenar esse capítulo. Eu substituí a cena original, que implicava que Cal estava conversando com o Leafar Clone, e troquei por uma que faz muito mais sentido no contexto da história do Blitzritter.

Bem, com isso, as cenas vão andar um pouco mais rápido agora, só tenho apenas mais uma cena a refazer do zero, enquanto eu vou revampando outras ao longo da segunda metade da fic.

Isso deverá ficar mais interessante.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Viridis: Capítulo 1: Selena

11 de Fevereiro de 1013, Savana de Ida, área do Aeroporto.

O Aeroporto de Arunafeltz ficava pouco a leste da cidade de Rachel, já adentrando a Savana de Ida. O Aeroporto tinha que ser constantemente protegido por guardas, devido ao local se situar numa área onde residiam Roweens, suricates velozes, fortes e extremamente territoriais, que compõem uma parte da fauna de Arunafeltz, e Anopheles, enxames de insetos que coagiam entre si de forma a obter alimento de animais azarados o bastante para perderem um confronto com eles.

Andando calmamente entre os aventureiros que se dispunham a caçar os Roweens, seja para um serviço do Grupo Eden ou meramente por treinamento, Cal estava se dirigindo ao Aeroporto para pegar seu rumo de volta a Izlude, onde se encontrava a base de seu grupo, a Thurisaz.

Na mente de Cal, apenas a imagem daquela foto que Johan havia lhe mostrado dias atrás, de uma menina de cabelos castanhos extremamente similar a Freya Belmont em todos os detalhes - inclusive os olhos de cores diferentes - ocupava um espaço significante. Nos dias anteriores, Cal foi praticamente incapaz de tirar aquela imagem da cabeça.

Ao chegar ao Aeroporto, ele foi recebido por duas garotas. Uma delas, de cabelos e olhos castanhos, trajando um vestido de cor vermelha, facilmente notável pelas mangas destacadas e gravata; a outra, de cabelos pretos, camisa branca, gravata preta. Os olhos castanhos brilharam ao ver o Cavaleiro Rúnico subindo as escadas do aeroporto.

Aquelas eram, respectivamente, Irma Aloisius e Eva Heins. Uma era a irmã adotada de Cal e a outra era sua namorada. E eram as pessoas mais próximas dele. Cal não ficou surpreso quando uma delas correu para abraçá-lo. - Cal!

- Hey, bom ver vocês de novo. - Disse Cal, se soltando do abraço de Eva. - Talvez tenha sido uma boa coisa o Johan aparecer; eu tava começando a pirar naquele vulcão.

- Cal, o que exatamente está acontecendo? - Foi a vez de Irma falar. - Eu entendo porque você sumiu pra treinar dessa vez, mas de repente você decide que vai voltar à atividade na Thurisaz. Você encontrou com o Leafar de novo, por acaso?

Irma sabia que era preciso alguma coisa forte para tirar o Cal de sua rotina. A aposta dela era algo que novamente envolvesse Leafar, tal como aconteceu diversas vezes em 1011, e mais uma vez três meses antes, em um outro evento em 1012.

- Bem, sobre isso... É, aconteceu alguma coisa, sim. O Leafar tem envolvimento nisso, mas dessa vez sou eu quem vai arrastar ele pro tornado.

Eva tomou a palavra. E já havia notado a diferença no olhar dele. - Espera. Cal, como assim, está envolvendo o Leafar nisso? Eu pensei que ele tivesse dito que estava querendo se afastar de tudo o que conhecia em Rune-Midgard.

- Pois é. O lance é que surgiu uma coisa. Um alguém. - Respondeu Cal.

- Que tipo de alguém? - Reagiu Eva, agora com um tom mais sério.

Cal deu um sorriso sarcástico, olhou para o lado, e então de volta para as duas. - Pelo que parece, outra Valquíria.

Os olhares e expressões das duas congelaram diante da resposta de Cal. Estavam descrentes do que haviam acabado de ouvir. Cal ainda acrescentou, para o choque das duas.

- E pra completar a piada, ela é quase idêntica à Freya.




Introdução normal: So Fast, So Numb - REM



Viridis

Capítulo 1: Selena


Era novamente o mesmo sonho. O mesmo mundo bizarro. A mesma Valquíria aparecendo diante dela. O mesmo ataque rasante na direção da garota. Mas alguma coisa estava diferente naquele sonho também.

Tão logo a Valquíria avançou sobre ela, ela se viu em um novo plano. E então, como monitores de televisão recebendo interferência de algum sinal de rádio, ela via fantasmas passado ao redor dela. A interferência foi ficando cada vez mais forte, o som cada vez mais alto, quase como se quisesse furar seus ouvidos. Até que parou.

E ela agora se via pisando sobre o que parecia ser um mar de luzes num ambiente negro. À frente dela, os mesmos dois Cavaleiros de seus outros sonhos. Dessa vez, ela não estava com medo. Ela queria respostas.

- O que vocês querem de mim? - Indagou a garota, em voz alta.

Os dois começaram a caminhar na direção dela. Finalmente aqueles dois seres mostravam uma aparência que ela conseguia distinguir. Não haviam cores, mas suas formas, seus traços eram claramente visíveis. Um deles, de cabelos escorridos, trajando uma jaqueta comprida, com uma camiseta e jeans, tinha seu corpo composto de uma luz azul. O outro, usando o que certamente era a armadura de um Cavaleiro Rúnico, com cristais nos ombros, tinha cabelos repartidos no meio, semi-compridos, e um olhar determinado, com seu corpo feito de luz verde. Ambos não aparentavam estar acima dos 25 anos de idade. A garota podia notar a espada de cristal nas costas daquele homem de armadura.

Esses dois passaram por ela sem dizer nada, até que finalmente a mesma Valquíria apareceu de novo, emergindo do mar de luz. E pela primeira vez, a garota caminhou na direção dela.

Era finalmente possível ver através da luz, a sua aparência, as cores de seus olhos, um vermelho e outro azul. A garota estava assustada, especialmente ao notar que a Valquíria era quase uma cópia carbônica dela em aparência, não fosse os cabelos louros.

- Você tem um legado a cumprir. - Disse a Valquíria.

- Mas que legado? - Indagou a garota, assustada. - Eu não consigo entender! Porque apenas eu tenho esses sonhos? Porque eles estão piorando a cada dia?

Tão logo a garota fez sua questão, a Valquíria começou a emitir uma luz forte. Esta luz começou a engolir todo o ambiente ao redor e, eventualmente, a garota, que agora estava ainda mais confusa.

- Esta é a sua escolha a ser feita. Você precisa decidir o que fazer agora, Selena. - Disse a Valquíria, conforme a luz finalmente a tragava.

E por alguns segundos, ela ouviu a voz chamando seu próprio nome em um eco,
até que sua mente fosse finalmente trazida de volta ao mundo real, e a voz da Valquíria se transformasse numa voz humana que ela podia facilmente reconhecer.

- Selena!

Ela finalmente acordou. Mas não era a calada da noite. Ou mesmo seu quarto. Ou sequer era um ambiente perfeitamente quieto. Ela estava em uma sala de aula. Quase ao final da manhã. Com os alunos e a professora ao seu redor.

Seu torso automaticamente se ejetou da carteira de volta a posição ereta, seus olhos girando ao redor e prestando atenção na situação ao redor. A professora que a chamou conseguiu voltar toda a atenção da sala de aula para Selena.

- Só porque o diretor da Academia Rodworth cuida de seu bem-estar, não lhe dá o direito de dormir na sala de aula, mocinha. - Bradou furiosa a senhora de meia-idade.

De fato, ela não estudava em qualquer escola. Bastava ver os uniformes, camisas brancas, gravatas listradas vermelhas, as meninas usando saias xadrez com vermelho como a cor principal.

- Sinto muito, Senhora Miller, eu tenho tido problemas pra dormir ultimamente. - Respondeu Selena, na única reação que ela poderia dar sem aumentar o constrangimento daquele momento.

Na carteira à direita de Selena, outra garota parecia apenas assistir a situação da menina de catorze anos.  Cabelos ruivos, num vermelho flamejante, repartidos quase diagonalmente, deixando uma franja descer pelo lado esquerdo do rosto, olhos castanhos fortes. Permanecia quieta enquanto a adolescente a seu lado se desculpava com a professora.

- Muito bem, mocinha. Eu vou deixar passar apenas desta vez. Mas teremos uma conversa ao final desta aula. - Disse a professora, num tom cauteloso.

Selena levantou as mãos ao rosto por alguns segundos, ainda recobrando a consciência, e então voltou a se focar na sua carteira. "Okay, Selena. Só mais uma sessão imbecil desse sonho.", ela pensava.


Uma hora se passou e a aula acabou. Selena tinha acabado de levar um sermão da professora Miller. Não era surpresa para ela. A menina tinha boas notas em média, mas sua média estava começando a cair, graças às recentes noites mal dormidas causadas pelo mesmo sonho.

A garota agora se encontrava nos armários da escola, alheia ao mundo passando ao redor dela. Guardou seu material, fechou o armário. Deixou a testa pairar sobre a porta de metal, quase inerte. Afrouxou a gravata e ficou parada ali, por alguns minutos. E então uma pessoa parou ao lado dela, a mesma garota ruiva da sala de aula.

- Parabéns, Selena. A terceira ocorrência dessa cena em uma semana. - Disse a ruiva, encostando no seu próprio armário com o ombro direito e com os braços cruzados. Selena finalmente se virou para falar com ela. - Aquele sonho de novo? O padrão já tá ficando chato.


- Mia, eu não acho que estou em condição de discutir isso. - Respondeu Selena.

Mia LeFevre era basicamente a única pessoa com quem Selena andava. Desde que ela foi admitida no colégio, três anos antes, quando foi acolhida pelo diretor Rodney, Mia foi basicamente uma das poucas amizades que Selena fez e manteve.

O que gerava reputação, pois Mia não era exatamente conhecida entre alunos, de qualquer sexo, por ser uma pessoa "feminina". Ela não era gay, mas certamente agia muito mais como um garoto do que alguns garotos da mesma classe. Um interessante contraste a Selena, uma dócil menina... Que tentava se virar sozinha a todo custo.

- Tá, e quando vai começar a discutir isso, Selena? - Argumentou Mia. - Quando você finalmente entrar em estado de total insônia? Você ao menos tentou processar o significado dessa bizarrice?

- Não é isso, é só... - Ela estava tendo problemas em encontrar as palavras certas. - ...Tá ficando cada vez mais difícil tirar essa porcaria da cabeça.

Os sonhos não eram novidade para nenhuma das duas. Haviam começado cerca de um ano antes, primeiro como cenas quase ininteligíveis, e então ganhando forma e identidade. No começo, era apenas uma vez por mês, então começou a ser uma vez por semana... E atualmente ela tinha esse tipo de sonho noite sim, noite não. E agora com cada vez mais detalhes novos.

E alguns desses novos detalhes incomodavam. Selena via pessoas que ela nunca havia encontrado na vida, dentre elas, dois homens, Cavaleiros Rúnicos de cabelos claros, cuja cor era ofuscada pela luz emanando deles. Seus sonhos também sempre envolviam a aparição de uma Valquíria, que ao final voava na direção dela. Esses detalhes viviam fincados na mente da garota.

- Escuta... Lembra daqueles retratos falados que você tentou no outro dia? - Disse Mia, finalmente abrindo seu armário e pegando algumas fotos dele. - As pessoas com o perfil desses retratos existem.

Mia mostrou a Selena fotos impressas de ditas pessoas. O Cavaleiro do sonho era um jovem louro de olhos castanhos. Estava trajando uma armadura similar à do sonho, de tom metálico com cristais verdes. O outro, também louro, de olhos verdes, era amplamente conhecido em Geffen... Ou qualquer canto de Rune-Midgard. Selena imediatamente pegou as fotos da mão de Mia e começou a olhar fixamente para elas.

- É aí que vem a parte engraçada. O do olho verde é Leafar Belmont... Mas ele está morto já tem uns três meses. - Disse Mia, se recostando no armário. - O outro... Digamos que eu tenho acompanhado o circo dele no ano passado. Ele se chama Cal Rasen, é líder do clã que tem fornecido tecnologia ao Reino do ano retrasado pra cá. E tem adquirido um bocado de reputação nesse tempo. Ah sim, esse ainda está vivo, pelo que fiquei sabendo.

- Tem alguma coisa me dizendo que eu não deveria ter certeza sobre a parte de ele estar morto. - Disse Selena, no que dizia respeito a Leafar. Não era novidade a história de que ele havia morrido. - Quer dizer, não é nem a primeira vez que eu ouço essa história de "Leafar está morto". Não era assim até o começo do ano retrasado?

- Não me diga que você passou a acreditar naquelas lendas urbanas que meia dúzia de drogados tem falado. - Respondeu Mia ao argumento da jovem de cabelos castanhos.

- Olha só, se não é a queridinha do diretor.

A nova voz veio do corredor, alguns metros mais adiante. A menina de uniforme ali, desafiadora, de cabelos castanhos, olhos verdes, e aparentava estar ligeiramente acima do peso. Selena tinha má fama por ter sido, de certa forma, "adotada" pelo diretor Rodney, que a inseriu no colégio. Isso não apenas havia tornado os últimos três anos difíceis para ela, como forçava Mia a interferir em cada luta que metiam ela.

- E veio acompanhada de... "seu cavaleiro"? - Disse a mesma garota, desdenhando Mia. A ruiva imediatamente se prontificou a quase avançar para cima da jovem com o punho em riste, sendo parada por Selena.

- Você não vai poder ser identificada como mulher quando eu terminar com a sua cara! - Exclamava Mia, que queria a todo custo passar por Selena para atacar a recém-chegada.

- Porque vai frear a sua namorada, Selena? Ela pode fazer perfeitamente o trabalho de defender você. - Adicionou a garota. Foi o suficiente para Selena se virar, furiosa.

- Eu não preciso da Mia pra arrebentar a sua cara! - A resposta rápida e estúpida de Selena finalmente chamou a atenção das pessoas ao redor.

- Isso é um desafio? Porque você não me soa muito como um desafio. - Respondeu a garota. Mia finalmente levou a mão direita ao rosto em resposta ao que aparentava ser uma idiotice da parte de Selena. - Depois da escola, então. Pode ser na frente do portão mesmo.

A garota então saiu andando, confiante. - Você é minha, Selena.

Conforme a garota se afastava, o ânimo de Selena caía para desespero, agora que ela iria ter que enfrentar uma valentona para provar seu ponto. Mia finalmente tirou a mão de seu rosto e questionou a garota. - Então, pra quem tava tentando me impedir de entrar numa briga no meio desse corredor, você simplesmente conseguiu um espetáculo maior.

- Eu sei... - Disse Selena enquanto ela se deixava deslizar ao chão, com as duas mãos no rosto e uma expressão que claramente mostrava que ela estava se perguntando o que havia acabado de fazer.

- Tá legal, vamos andando. - Mia chamou novamente a atenção de Selena. - A gente pode resolver o lance das fotos depois, primeiro precisamos garantir que você saia viva dessa treta.





Base da Thurisaz, Izlude, 12:35.

Cal, Irma e Eva estavam finalmente de volta de Arunafeltz. Para as duas, foi apenas uma viagem rápida, mas para Cal, fazia meses que ele não via a cor de sua casa, a Arena de Izlude, que acabaria sendo convertida na base de seu clã.

O trio mal entrou no castelo e foi recebido no saguão por um Sicário, magro de cabelos castanhos lisos, uma franja escondendo o olho esquerdo. Estava encostado na parede, observando calmamente o ambiente, até que viu o Blitzritter chegando.

- Bem, se não é o cara que vai treinar sozinho toda vez que um amigo some do mapa. - Disse o Sicário. - Decidiu voltar e ficar em casa?

- Ainda bem que não foi em você que eu coloquei a pressão de liderar o clã. - Respondeu Cal. - Mas então, Takashi, Johan tem feito um trabalho que preste?

Takashi Ishikawa era o nome do Sicário. Um guerreiro de Amatsu que não possuía memórias de seu passado após transcender, vivia entre os serviços para a Ordem dos Assassinos, seu trabalhos para o mercador Karl Glassard, e as atividades da Thurisaz. Analítico ao extremo, sempre foi altamente observador do comportamento de Cal, especialmente depois de seu rompante onde saiu à caça de Leafar Belmont. Isso quase o motivou a deixar o clã na época.

- Tem segurado as pontas. - Respondeu Takashi. - Mas eu acho que você já tem uma pergunta pronta. Sim, ele chegou.

Takashi se referia ao fato de que Cal esperava que Leafar viesse até sua base. Não que houvesse um lugar melhor para estacionar; Cal estava ciente de que Leafar estava evitando a cidade de Geffen no momento, devido a ser amplamente conhecido na cidade.

Após mais alguma conversa, Cal se dirigiu sozinho à nova área de lazer que ele havia montado para essas ocasiões. Era logo após o lobby da base, numa entrada diretamente ao norte.

Lá, ele podia encontrar o Dragão louro, recostado calmamente em um dos sofás, com a cabeça voltada para o alto e de olhos fechados. - Normalmente você diria esperar ter um bom motivo pra eu te arrastar de volta pra cá, mas eu acho que você já viu aquela foto, não foi?

Leafar abriu os olhos e os virou para a direita, notando Cal. Depois de uma rápida espreguiçada, ele se levantou e se virou para o Cavaleiro do Relâmpago. - A Irma tinha razão, seu cabelo tá mesmo piorando.

Isso era uma referência ao fato de que o cabelo de Cal estava ainda maior que antes, agora com a franja repartida quase cobrindo os lados do rosto e seu cabelo passando da nuca.

- Podia ser pior, eu poderia estar usando óculos com lente de tinta colorida. - Retrucou Cal, notando o óculos escuro pendurado na camiseta que ele vestia por baixo daquela jaqueta azul.

Os dois trocaram olhares afiados por um momento e finalmente se cumprimentaram, apertando a mão um do outro. Era o primeiro encontro dos dois em meses. Em uma situação normal, Leafar recusaria o chamado de primeira, devido a querer evitar Rune-Midgard. Mas aquele era um caso especial.

Não era todo dia que uma pessoa com extrema similaridade a Freya Belmont aparecia nos arredores. E ele e Cal estavam interessados em saber o que estava acontecendo.


OFF




Bem, agora Viridis começa. Devem ter notado a diferença de ares entre os ambientes de Selena (uma escola cara) e de Cal (a costumeira base da Thurisaz). Era um plano desde que eu comecei a idealizar o Projeto Eir, uma garota aparentemente comum vivendo normalmente, e então o mundo dela virando ao contrário.

Mais futuramente, com o avançar da fic, eu vou explicar o que fez Leafar se afastar de Rune-Midgard ao final de 1012, bem como o que motivou Cal a entrar em treinamento pesado.

Se preparem, o Projeto Eir mal começou.